Sunday, 29 December 2013
Um bilhete, na mesa, sem envelope, folha de papel sem dobras, caneta por cima em viés. Mensagem supostamente inacabada, interrompida talvez por um telefonema, uma panela ao lume. O rádio ligado, baixo, inaudível numa primeira interação com a sala vazia de pessoas, plena de impressões. Meia-luz, meia penumbra. Mundos divididos no mesmo espaço. Uma certeza com tanto de improvável, como de inabalável. Aperto no coração, manso a princípio, gritante três segundos depois. Interruptor, luz que invade o espaço. Ânsia de afastar pensamentos que se esperam injustificados, negada. Improbabilidade concretizada. Todas as outras certezas intactas. O baú cor de mel, comprado no antiquário junto à Assembleia, o sofá vermelho desbotado pelo tempo, no mesmo sítio. As fotografias, os quadros, o cavalo de madeira que o meu tio me deu milimetricamente iguais a si mesmos. A orquídea, indiferente e altaneira com as suas hastes carregadas de flores, sorridente para quem chega. Apenas o papel destoa, e aquela caneta, por fechar, em viés, em cima da mesa.
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
2 comments:
Talvez que o papel com algumas palavras lá escritas não fique a destoar tanto.
Feliz 2013.
Beijos.
Talvez... deixa ver para onde a história vai (se é que me dá para continuar a escrevê-la).
Quanto ao ano, pode ser um 2014 feliz também ;)
Post a Comment