Thursday 25 February 2010

Sabem quando temos um daqueles momentos em que achamos alguma coisa engraçada, e começamos a rir e continuamos a rir e não conseguimos parar e às tantas já nem sabemos muito bem a razão pela qual começámos a rir, ou melhor sabemos perfeitamente mas já só nos estamos a rir do facto de nos estarmos a rir, e quando reparamos já nos correm lágrimas pelo rosto só de rirmos e quase temos de fazer um esforço sobrehumano só para respirar e quase temos a sensação que vamos rebentar de tanto riso? Pois isso não é sinal de que o mundo acabou ou que nós nos acabámos de tornar dementes sem salvação. Isso é apenas um sinal de que estamos vivos, de que o nosso coração continua alegremente a bombear sangue para todo o corpo e de que, independentemente das nossas convicções, princípios, ideologias, crenças e tudo o que mais que vai marinando no nosso cérebro, os nossos neurónios têm um genuíno sentido de humor para se rirem das coisas mais disparatadas que nos põem à frente.

Esta semana tive um momento destes. E há poucas coisas tão boas como isto.



Friday 19 February 2010

Às vezes do nada, somos surpreendidos, de forma espontânea, inequívoca, inesperada. Sem aviso prévio, nem pressentimentos ou prenúncios. Algo que já não esperávamos, que cada vez que nos vinha a mente era automaticamente catalogado com pertencente às coisas de categoria sumamente improvável, simplesmente acontece.

(obrigada por seres nossa amiga à tua maneira)

Primeiras impressões

Estou a deixar a minha primeira impressão num blog, que surgiu numa tarde estupida num café qualquer. Como as primeiras impressões são importantes, vou deixar uma que fique para sempre. E é claro que para isso acontecer, tenho que escolher uma daquelas verdades feitas, frases que repete quem gosta de parecer intelingente.. pois aqui fica para gáudio dos três:

A verdade é que o mundo nem sequer existe, que a nossa consciência é uma ilusão e que passamos a vida a enganar-nos.. por isso como pode acabar à quinta-feira?

Amanhã vou sair de casa às 05:00 e vou pintar uma escola abandonada, numa aldeia abandonada ao Norte de Luanda. E vai ser tão bom ver mais tarde aquelas paredes sujas.. mais importante do que passar pinceis pela parede é saber que uma criança passará por lá a correr, raspará, sujará com terra e com pneus que os meninos lá da aldeia usam para brincar..

Há todo um mundo que morre às quintas-feiras porque nos faz dormir a consciência, mas há todo um mundo novo que começa às sextas, com esperança nas mãozitas futuras de meninos que vão sujar uma parede que se pinta com amor.

Thursday 18 February 2010

Qual serie la sensaçon de cuncretizar la fuga? Naqueilhes dies, el nun cunseguia pensar noutra cousa que nó fusse simplesmente bater cula puorta, mandar to aquel quotidiano a la merda i simplesmente fugir, correr, deixar to aqueilha eisisténcia çancadielha para trás de las cuostas. Haberie culpas del, cierta mente, el tenie assinado por baixo i era antoce cul sou cunsentimiento que todo aqueilho tenie acuntecido. Mas nunca tenerie el eimaginado que las cousas chegassen a un punto an qu'el sinceramente cuntemplasse treminar cun todo, rialmente todo. I por esso ye qu'agora solo le ocorria fugir, para adonde naide l cunseguisse ancontrar. Nin aqueilhes qu'amaba, nin aqueilhes qu'odiaba. Solo i solo ampeçar todo de l zero. Ua spece de renacimiento de la sue pseudo-alma. Melhor i menos drama quen, un reset de la massa cinzenta, squecendo to l'angústia i delor que ls redadeiros dieç anhos de la sue bida le tenien proporcionado. Era triste aqueilha fuga, pus deixaba tamien muita cousa buona para trás. Mas l que fazer cun amisades que ne l redadeiro segundo nun chegában pa l salbar? L que fazer cun todas aqueilhas retratos stupendas, qu'agora solo se lhemitában a ganhar pó an albuns i caixas? L que fazer cun amores tan apaixonadamente bebidos, qu'agora se tenien tornado an mimórias azedumes que nanhun sistema de suporte de bida cunseguia reanimar? Ne l balancete de las cousas, l passibo cunseguia anterrar ls restos mortales de l'atibo. I por esso nun habie outro camino. Tenie de fugir, para alhá de la lhinha de l'hourizonte i antes de l sol se poner. Qual mísera caricatura dun lhucky lhuke sin selombra nin cabalho.

(depuis de passar ls uolhos pula Lhei Seca)

Saturday 13 February 2010

Parece que o mundo já não tem dia certo para acabar, é quando calha, quando há tempo, quando as palavras têm a agenda livre e resolvem dar a cara. Talvez seja melhor assim, mantém-se o elo sem criar a sensação de obrigatoriedade que muitas vezes corrói a leveza das coisas. O importante é escrever (ou manter a ilusão que um dia, um dia vamos escrever, arte sublimemente praticada pelo membro silencioso deste trio), partilhar (mais, ou menos de nós), estarmos presentes.

(hoje foi um dia de sol, daqueles que eu gosto, daqueles que aproveito. Não fosse haver demasiadas pessoas - não simpatizo com multidões - a passear como eu, teria sido perfeito)

Sunday 7 February 2010

Não é que não haja nada para dizer, ou que falte vontade de escrever, a questão é que as palavras alinham-se de forma frugal, desmaiada, sem dar azo sequer a frases soltas.

Batalha inglória de escrever e apagar.

Thursday 4 February 2010

Devia ser proibido ler cartas antigas.
Por vezes acabamos por esquecer parte daquilo que outrém nos escreveu há anos e anos atrás. As coisas boas, as coisas menos boas, as coisas que já são passado, as coisas que continuam a acontecer no presente. Custa ler as palavras de pessoas que foram seguindo outros caminhos, longe dos nossos. Custa ler as palavras de pessoas que continuam a fazer parte da nossa vida, mas de forma diferente, muito diferente daquilo que eram e daquilo que nos fizeram sermos tão próximos. Custa ler as palavras que lemos no passado, num sítio longínquo, onde apenas podíamos imaginar o sorriso da pessoa que nos escrevia, onde sentíamos as lágrimas a aparecerem quando pensávamos na lágrima que corria na face de alguém que estava longe. Ficamos felizes por lermos palavras que são tão válidas hoje como o eram há dez anos atrás. Sentímo-nos impotentes por lermos palavras de quem nos amou e que depois nos deixou, palavras desamparadas, palavras paradas no tempo que impacientemente correu até nos deixar num presente onde estas palavras parecem punhais. As cartas trazem consigo as imagens do passado, aquelas imagens que não podem ser fotografadas, que caminham pelas ruas perdidas da nossa memória. Mas elas trazem também consigo o contraste do presente, a ausência que nos percorre quando algumas palavras são tão duras de ler. E mesmo assim, recusamo-nos a lançar essas cartas na fogueira do esquecimento, pois mesmo sendo trespassados por esses punhais feitos de tinta escrita à mão, é importante que fiquem por ali, arrumadas numa gaveta, a lembrarem-nos que já fomos felizes, já chorámos, já fomos amados, já fomos inocentes e tudo aquilo ainda somos nós e elas, as pessoas cujo eco das palavras continua a ressoar dentro da nossa alma.
Devia ser proibido ler cartas antigas.

Ou, faz parte da tua vida.
:)