Thursday 28 May 2009

Ia a caminho de fazer um RX (por causa de umas vértebras casmurras como alguém lhes chamou) quando recebi uma mensagem a avisar que a Joana tinha nascido, e que os pais estavam babados, felizes e todo mais um sem número de predicados simpáticos e agradáveis.

Fiquei contente por eles, muito contente, mas ao mesmo tempo tive consciência do quão longe estava de realmente perceber os sentimentos e reacções que surgem com um nascimento de um filho (e essa consciência foi reconfirmada quando mais tarde fui ao meu email).

Porque uma coisa é pensar no que deve ser (sem sequer chegar a tocar a experiência), e outra é de facto senti-la.

E sim, esta semana, o mundo não acabou à quinta, mas renasceu à segunda.

Thursday 21 May 2009

Há pessoas que se divertem ou distraem a lixar a vida ao próximo. Como quem vai ao cinema, ou tomar café. Em vez de viverem a vida, ou fazerem por ela, divertem-se a criar intrigas ridículas, boatos psicóticos, ou a causar desconforto ao vizinho do lado.

Alguns delas estão perdidos numa espiral obsessiva de rituais, leis, obrigações, que impõem a si mesmas e impigem aos outros. Costuma-se dizer que não têm nada para fazer, ou que são infelizes. Talvez sejam ambos, talvez apenas tenham tido uma sucessão de dias maus...

Eu que foi recentemente o alvo escolhido, estou apenas contente de não ser assim (ou assim o espero).
Reactiva ou preventiva? Ou ambas?

Esta é a pergunta do dia. A par do sentimento que este tipo de empresas qualquer dia pode alegar um estatuto de ONG's, preocupadas com o futuro deste país e preocupadas em empregar todas as pessoas inscritas nos centros de emprego, e o melhor de tudo, sem se preocuparem com os seus próprios honorários. Bom, pelos menos o suficiente para pagar a renda, que não deve ser baixa.

Eu sei, o cinismo nestas situações começa a ganhar pontos. E isto mesmo havendo do outro lado genuína simpatia, ou algo similar. Mas o que é que se pode fazer depois daquela meia hora? Olha, talvez que o dia estava bonito, deu para voltar a ver uma cidade desafogada, aos altos e baixos, com muitas obras e cafés fechados, com muitos sítios novos e apetitosos, com muito para ver, ouvir e saborear, que o mundo está sempre a surpreender-nos. E nunca se sabe quando é que nos vamos cruzar com um antepassado nosso tão mais sensato que nós...

Thursday 14 May 2009


Muitos fios, muitos livros, muitos mails, muita coisa a acumular pó sobre pó. Os períodos de férias, em cada ano que passa, parecem tornar-se cada vez mais pequenos e não há tempo nem para metade das tarefas lúdicas que tínhamos programado. E quando vamos a olhar, o regresso ao trabalho chegou e passou e uma semana já lá vai. E quando menos se espera, uma dinastia de quatro anos chega a um fim tão inesperado como indiferente. Aliás, é essa mesma indiferença, que já vem com alguns meses de bagagem, que acaba por marcar esta semana que passou, uma semana estranha e rápida, com algumas revelações quase surpreendentes, alguns términos esperados, e inícios prometedores. Isto tudo para dizer que mesmo quando uma parte do nosso mundo termina, seja nesta ou noutra quinta-feira, há sempre um alívio em saber que, quando chegamos a casa, há um conforto, um par de olhos familiares que nos esperam e não querem nada mais para além do nosso próprio bem. E isso é algo que nenhum tipo de esquizofrenia bovina aguda consegue destruir...

Thursday 7 May 2009

Às vezes o mundo organiza-se de uma forma quase perfeita. Os dias não passam nem depressa, nem devagar. Está calor, mas corre uma aragem fresca. O conforto da electricidade está ali à mão, mas conseguimos observar o céu estrelado na sua ampla magnitude e procurar constelações perdidas lá atrás na nossa infância. Tudo parece ter um ritmo delicioso. Tudo parece ser simplesmente simples. Apreciam-se os amigos e as conversas. A televisão não faz falta. Passa-se para o minuto seguinte entre livros, passeios, fotografias, caipirinhas e gin tónicos, amendoins e pistácios, saladas com pimentos e secretos de porco grelhados. A fila de espera para o banho não origina stress. Tudo se conjuga de forma normal. Cada um parece ter o seu lugar. Sentimo-nos parte da paisagem, dissolvendo-nos numa paz sem limites, nem contornos.
Ontem partilhámos provavelmente o momento mais íntimo que alguma vez tivémos. Bem sei que era uma actividade perfeitamente banal, mas quando os meus olhos encontraram os teus continuamente marejados pelas lágrimas que agora te aparecem tão facilmente, por pouco não chorei também. Armei-me em forte e sorri e pedi o teu sorriso, que de tão bonito devias exibi-lo todos os dias. Quando viraste as costas, enxuguei as minhas lágrimas enquanto pensei que momentos como aquele são aqueles que irei guardar no meu coração quando a tua hora de partir der os primeiros sinais. E derramei mais algumas lágrimas quando pensei nisto.

Hoje fazes 89 anos. Desde o minuto em que tomámos o pequeno-almoço, passando pelos remédios que te dei e a nossa conversa a meio da manhã, até aquele minuto em que te passei para a tua mão a minha lembrança de aniversário, que o teu sorriso tem feito mais aparições do que é normal, o que me deixa muito feliz e acaba por encher toda esta casa com a tua presença. O carinho que te dei ontem tenho-o recebido a dobrar hoje e não há sensação que se lhe compare, nem palavras que possam traduzir o que sinto de cada vez que me olhas nos olhos, como o homem que sempre foste.

Parabéns, meu querido António. Parabéns, meu querido Avô.