"Uma derrota do meu Benfica perfura-me o ânimo, sem cuidar da anestesia. Uma vitória do meu Benfica alimenta-me mais do que o mais calórico dos alimentos, e anima-me mais do que uma mão-cheia de antidepressivos. Na vitória, o amor ao clube é partilhado, mas no desaire a solidão dá-lhe uma expressão infinita e incondicional. Como acontece com a pessoa amada, o verdadeiro teste do afecto concretiza-se nos momentos difíceis. O Benfica é ao mesmo tempo afecto e privilégio, coração e razão, vitamina e analgésico, fermento e adocicante, saudade e desafio, cumplicidade e aconchego."
Utilizo as palavras de outrém pois acho que são a explicação possível para o que significa ser adepto de algo. Quando as emoções se misturam cá dentro a um ritmo avassalador, quando passamos no espaço de um minuto da maior das euforias ao mais profundo dos desesperos. E acho que isto é algo com que qualquer adepto se pode relacionar, independentemente da sua cor clubística. Todos somos treinadores de bancada, todos achamos que sabemos a táctica perfeita, todos pensamos que sabemos o segredo por trás da vitória, dos golos, das bandeiras e dos cachecóis a rodopiarem no ar. No fundo, não passa de um jogo, algo que também atravessa a nossa vida, mas que não passa disso mesmo, de um jogo. Que por vezes se leva a si próprio demasiado a sério, mas enfim, se fosse a feijões a paixão não existiria. Assim, e independentemente do que aconteça este próximo fim-de-semana, neste campeonato o meu clube já me deu enormes alegrias. Desde a avalanche de golos, aos passes de letra do Di Maria, dos pontapés bombásticos do Carlos Martins, às fintas do Saviola, dos pulmões enormes do Ramires, ao nervoso miudinho de cada vez que o Cardozo ia marcar uma penalidade, da força de vontade do Jorge Jesus, às vezes em que preferia que o mesmo Jesus ficasse mudo e calado. Houve de tudo este ano e agora que, sem cinismos, espero que o campeonato fique ganho, mesmo que isso não aconteça, o meu Benfica já cumpriu uma coisa em relação a mim. Devolveu-me, nem que seja só este ano, o gosto de ver futebol bem jogado. E isso, é bem melhor que um Picasso de 81,3 milhões de euros (ou não...).
Thursday, 6 May 2010
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