Thursday 30 July 2009

Custava-lhe virar as costas. Afinal de contas, tinha sido a relação mais duradoura que alguma vez tinha tido. É certo que eram o pólo oposto um do outro, mas não tinha ouvido tantas vezes aquela expressão dos pólos opostos que se atraem? Mas depois de todos aqueles anos, ficava plenamente convencido que a tal expressão devia ser uma referência a um antigo anúncio daquela marca de automóveis que nos anos 50 andou a fazer mutações genéticas de carros com insectos rasteiros. Mas, divagava. O que era realmente importante saber é que a relação tinha chegado ao fim, morta e enterrada ainda antes daquela última discussão. No fundo, ela nunca o tinha chegado a realmente entender. Isto é, nunca percebeu o seu eu interior. Aquilo que o fazia mexer. Também podia defender-se dizendo que ele raramente conversava com ela e saía da sala assim que os lábios dela previam a formação de palavras. E era realmente verdade. Mas não seria isso uma mísera desculpa para ela não encarar o problema de frente, o verdadeiro problema? E qual era o verdadeiro problema? A sua dependência dele, a maneira como sorvia todo o seu ser, deglutindo-o até um ponto onde já quase não existia. Aquilo não era, de modo algum, um relacionamento a dois, mas sim a diluição do seu próprio ser no desejo absolutamente pecaminoso de gula da parte daquela mulher que agora deixava para trás.

Em tudo isto pensava o esparguete, enquanto retirava dos bolsos algumas alcaparras de modo a poder pagar o quarto de motel, e as poisava no balcão por trás do qual uma beterraba mal encarada e de óculos escuros o observava de forma desconfiada.

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