Enrolou-se no sofá, puxou a manta e fechou os olhos. Deixou-se ficar, com a televisão como música de fundo e a luz esbatida do candeeiro do canto. Os minutos passaram; nem um movimento. Nada, nem ninguém se mexeu. As paredes impávidas e serenas, permaneceram senhoras de si, alheias ao que se passava. O silêncio era-lhes indiferente. A aparente ausência de movimento, de vida era na realidade uma ilusão. A sua cabeça passava de pensamento em pensamento, de constatação para constatação, e a alma cansada de sofrimento deglutia tudo como se a dor não lhe pertencesse, como se tivesse ganho ao mundo e fosse tudo o que queria ser, sem limitações e entraves. Amarrotou a carta que segurava na mão direita, inconsciente do movimento, decidindo que não a releria, e que aquela era, tinha de ser, uma página virada da sua vida. Apeteceu-lhe levantar-se e arrumar os armários. Pensou que não deixava de ser revelador a necessidade que tinha de arrumar a casa, quando tinha de arrumar a vida. Mas deixou-se ficar puxando a manta mais um bocadinho. A televisão continuava lá, a debitar imagens e sons que se perdiam sem recetor. Continuou numa espécie de limbo mental e físico. Continuou num mundo só seu.
(e não é que acertei em mais uma quinta-feira... o bolo está no forno, e a contagem decrescente já começou - se para mais ninguém, para mim -).
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3 comments:
Mesmo acabando às quintas-feiras, o mundo tem mais piada quando partilhado com outréns. Digo eu. Acho eu.
Bejos.
Sim, a piada da vida é a partilha (e partilhar connosco mesmos também é bom e importante).
Bjs
RF
Partilhar connosco mesmos??? Não estás a desenvolver nenhum tipo de bipolaridade, pois não? Deixa-te estar assim que é como gostamos de ti. :)))
Bejos.
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