Thursday, 13 December 2012

Estamos outra vez naquela altura do ano.

A sala está invadida por papel de embrulho, envelopes, postais e canetas. E mais umas quantas coisas que fazem com que as noites sejam mais ocupadas do que é habitual.

Vão começar as idas ao correios. E às lojas que ainda resistem abertas perante tanta crise, austeridade e tristeza. O frio não ajuda, a chuva muito menos.

E no entanto, são pequenas coisas que preenchem os dias de Dezembro e inspiram sorrisos á espera do que aí vem. Vai ser bom, com toda a certeza.

Só não me pensam balanços. Este ano não vai haver balanços. Prefiro pensar que este foi um ano para, não digo esquecer, mas para dar mais relevo ainda aos anos bons que houve e quem ainda aí vêm. Irremediavelmente optimista me confesso. Sem balanços.

Saturday, 1 December 2012



(aprender uma língua nova, é aprender sobre uma cultura, e como alguém já disse a música é uma linguaguem universal).

Thursday, 25 October 2012


(relembrando coisas do passado enquanto se prevê trovoadas para a noite...)




Thursday, 18 October 2012

Um restaurante quase vazio. António entra quase a medo, não sabe se fez bem em escolher aquele sítio para matar a fome. Mas também não havia muita escolha. Tinha que parar em algum sítio e de cada vez que percorria mais um quilometro sentia-se ainda mais perdido. E isso aumentava ainda mais a sua natural insegurança. Mesmo assim lá entrou, quase a medo como já se disse. Numa mesa do canto um casal mais o filho vão conversando sobre uma série de pratos fumegantes. Numa outra mesa, em frente ao único televisor da sala, uma senhora de idade que vai acabando de beber um café enquanto observa apreensiva as notícias televisivas. A única outra pessoa presente na sala é um homem alto e magro, camisa branca e calças pretas e que se dirige a ele com um sorriso nos lábios. "Boa tarde. É só o senhor?" António acena que sim e o homem convida-o a sentar numa das mesas vazias. Rapidamente lhe traz um cesto com pão e uma tigela de azeitonas, enquanto vai falando incessantemente sobre os pratos do dia, sem nunca perder o seu sorriso. António não sabe pensar se o homem está a ser genuinamente simpático ou se aquilo é apenas uma cassete de restauração. Após o que lhe parecem horas, lá consegue dizer ao delgado empregado que apenas deseja uma sopa. Pode ser a do dia, uma canja de galinha. O empregado garante-lhe que é uma boa escolha e despede-se com um obrigado na direcção da cozinha. Do outro lado da pequena sala, a senhora desvia o olhar da televisão e, olhando nos olhos de António, diz-lhe "Vai gostar muito da canja. É uma especialidade da Idalina.". António fica surpreendido, mas rapidamente percebe, pelas palavras que a senhora lhe vai dizendo e pelo retrato de um casal pendurado por cima da família do canto, que aquela senhora é filha dos fundadores do restaurante e a provavel actual proprietária do mesmo. A senhora continua a falar com ele sobre comida, o tempo lá fora, as notícias da televisão, a terra onde estão, enquanto António vai interpondo aqui e ali um ou dois monossílabos, limitando-se a maior parte do tempo a ouvir a senhora, nunca se cansado das suas palavras. Talvez que estas pessoas sejam realmente assim, simpáticas e interessadas nos seus clientes. Chega a canja. O empregado deseja-lhe bom apetite e segue para a mesa do canto. A família acabou a refeição e está a pagar a conta enquanto se vão rindo com o empregado de um comentário do filho. António vai comendo a canja e fica maravilhado com o quão saborosa é. Há muito tempo que não comia algo tão bom. Talvez que a última vez tenha sido o prato que a sua mulher lhe preparou na noite antes de partir. Desde esse dia que ansiava por comer algo que lhe lembrasse a sua casa, a sua mulher, o seu filho. E era isso que aquela canja lhe lembrava, o calor da sua terra. A família passa pela sua mesa e todos eles se despedem amistosamente dele e a mulher diz-lhe mesmo "Prove a alhada de cação, vai ver que está uma maravilha!". Despedem-se com sorrisos da dona do restaurante e saem para a rua. António está desconcertado. Já não pensava que pudesse haver pessoas assim. É sinal que está realmente longe de casa, longe das pessoas cínicas e frias da sua terra. Além da sua esposa e filho, já não pensava sequer em algum dia conversar com outras pessoas, quanto mais pessoas desconhecidas. Mas aqueles desconhecidos do restaurante fizeram mudá-lo de opinião. Afinal ainda há esperança para estes dias. António terminou a sua sopa e sentia-se perfeitamente satisfeito. Pediu a conta ao empregado. Este estranhou e perguntou-lhe "Mas o senhor não quer nenhum prato principal? Temos uns quantos do dia e são tão bons.". António agradeceu ao empregado com palavras simpáticas e à senhora de idade, que olhava para ele inquisitoriamente, com um aceno e um sorriso. Sentia-se satisfeito, a canja tinha-lhe aquecido a alma. Enquanto dizia aquilo, António não podia sentir uma certa estranheza nas palavras que dizia, há muito tempo que não usava expressões assim, directamente do coração. Pagou a conta e despediu-se com apertos de mão aos dois e com o desejo que dissessem à D. Idalina que a canja estava maravilhosa. Agradeceu uma e outra vez a hospitalidade e fez votos de que viessem melhores tempos, com mais clientes e sala cheia. Cá fora, o sol dava um ar da sua graça. A chuva e o nevoeiro pareciam ter fugido para outro lado. Enquanto se afastava do restaurante, levou a mão ao casaco e sentiu as formas perigosas do revólver. Não, pensou ele, não desta forma. Aquelas pessoas não mereciam que ele roubasse a caixa registadora. Aquelas pessoas mereciam melhor do que um estranho a estilhaçar a vida deles. Aquelas pessoas estavam a passar pelas mesmas dificuldades que ele. Elas não mereciam estar na mira de uma arma e ele nunca se perdoaria de ser às suas custas que iria pôr comida na mesa da sua família. Sim, ele tinha de lutar pela sua mulher e pelo seu filho com todas as armas que estivessem ao seu dispôr. Mas aquilo não. Roubar aquela casa era algo que ele não podia fazer, algo dentro dele não o deixaria e sentir-se-ia como se estivesse a vender as últimas réstias da sua dignidade. Talvez que fosse altura de se deixar daquela vida, atravessar a fronteira, voltar a casa e arranjar outra forma de trazer dinheiro para a sua família. Talvez que ainda possa haver uma vida decente. Talvez que a honestidade e um sorriso simpático ainda tenham lugar neste mundo...



Thursday, 4 October 2012

O nosso amor tem presença própria, toca-se com a mão (sente-se com a alma). É tátil, cheio, roliço, faz-se sentir. Transborda pelos nossos olhos, acompanha os nossos movimentos. É visível. Leve em peso, é preenchido de simplicidade e ainda assim dono de densidade complexa; pleno de pequenos nadas, recheado de pequenos tudos. O nosso amor tem sensibilidade, partilha, tem palavras, tem silêncios, tem olhares, tem sins, nãos, e talvezes. Tem vida. Tem fogo e entrega, tem carinho. Tem o eu, tem o tu, tem o nós. Tem os nossos filhos. O nosso amor é profundo e generoso, renova-se a cada passo, alimenta-nos, acompanha-nos, torna-nos melhor. O nosso amor é terno, é íntimo. É cheio de amor.

Thursday, 27 September 2012

Não deixa de ser simplesmente fabuloso como se pode pegar num mero saxofone e fazê-lo soar como um distante e temível didgeridoo.


(este sítio anda com uns escritos cada vez mais crípticos. não sei, não, mas qualquer dia esta casa ainda acaba por implodir. fica o aviso.)

 

Tuesday, 4 September 2012

Percebi que não és o amor da minha vida, disse-lhe ela por intermédio de uma folha de papel meia amachucada e amarelada. Vejo agora que há uma divergência entre o que eu sabia que eras, e quem és efetivamente. Não porque me tenha enganado redondamente, ou forrado o nosso amor de patine cor-de-rosa. Simplesmente porque, de alguma forma libertei o que melhor havia dentro de ti, puxei o teu lado branco, e a minha influência, apesar de perdurar, esbate-se agora, perde terreno, e há em ti cada vez mais pontos cinzentos e pretos. Não tenho pretensões a salvadora da pátria, nem a anjo redentor, acrescentou com caneta preta e letra indiferente às emoções do momento, nem me acho uma pessoa sem mácula ou pecado, mas sei que de facto te influenciei positivamente, e te envolvi com o melhor que há no mundo, partilha e respeito profundos, leveza. Custa-me ver-te ceder à raiva e ao peso dos vícios, mas a verdade é que não posso fazer mais do que faço. Estaremos sempre ligados, e esta ligação não é morta, conjuga-se em vários tempos verbais. Mas a minha presença na tua vida tem contornos diferentes dos que julgas ter. Não és o amor da minha vida (tal como eu não sou o teu) mas estaremos sempre na vida um do outro, e a verdade é que te amo, como se ama alguém que nos é realmente querido. Abraço apertado, escreveu já quase no fim da folha, de forma meia inclinada.

Sunday, 19 August 2012

As palavras não chegam. São insuficientes. Incapazes. Incompetentes. É um estado de espírito que se sente, não se diz. Não se explica. Quem (realmente) nos conhece, sabe. Está. Partilha o peso, que pesa pela duração, e não pela intensidade. Dá a mão. Mantém-la com o passar dos dias. Exercita a amizade, exercita a leveza dos pequenos nadas que tornam a vida (mais) leve. Fica. Vai. Volta. Permanece. Fala com os olhos. Fala com silêncios. Fala por falar, diz disparates que nos fazem (sor)rir. Faz-se presente de forma inequívoca e não necessariamente presencial.


(está guardado dentro de uma caixa, pequenina...)

Thursday, 2 August 2012

"É impressionante como passas ao lado da vida. Sempre distraído com alguma coisa, sempre a pensar na morte da bezerra. Porque não te viras para a frente e agarras a coisa pelos cornos? Pensas que vai ser sempre assim, sonhos acordados com uma paisagem bonita em fundo? Desengana-te, meu amigo, ainda vais ter de pisar muito carvão em brasa até chegares ao teu destino. E mesmo aí duvido que realmente ganhes juízo, não passas de um pobre sonhador, sempre a imaginar o que poderia ter sido ou o que ainda pode acontecer, quando na verdade deixas escapar o presente nas areias em fuga de uma mera ampulheta. Vá, diz lá que não tenho razão, diz lá que sou só basófia e garganta. Ainda vai chegar o dia, e não deve estar longe, em que vais dar o braço a torcer e afirmar, com todas as letras, que eu é que tenho razão e que começaste a procurar a vida, a real vida, demasiado tarde. E depois quem é que te vai amparar?Não contes com a minha ajuda, meu pateta, tenho mais que fazer, ainda tenho de passar hoje nas finanças para entregar o IRS em atraso..."



(Foto tirada por um desaparecido em combate.)

(a dobrar)


Tuesday, 31 July 2012

Revisito-te. Descanso no teu ombro, navego entre notas e tristezas. Permaneço rodeada de abraços que não se esgotam. Fico. Presa ao som que me ofereces sem pedir nada em troca. Presa ao sentimento que emana suave e incorruptível, indestrutível. Deixo as saudades, que não me lembrava que tinha, virem ao de cima. Esta quase prece torna-me mais leve. Torna-me mais livre. Pela tua mão vou, sem destino ou direção, sem pressa, nem urgência. Prenuncio-me sem palavras, persisto.



(há músicas que fazem parte de nós)

Sunday, 29 July 2012

Espécie de mantra; matemática simplista que alivia o espírito. Coisas que ficam para trás, pernas que seguem em frente. Horizontes que se respiram, contornos que se fundem.

Thursday, 12 July 2012

Remar, remar, já diziam os senhores comendadores.
Remar sempre, sem parar, ainda que à deriva e com os braços cansados.
Remar contra a corrente, contra o vento, contra tudo e contra todos.
Remar não custa, especialmente quando temos alguém que rema do nosso lado.
Remar pela vida, pela amizade, pelo respirar contínuo sob céus interminavelmente azuis.

Ontem o mundo apenas acabou para um par de óculos. Que descansem em paz na companhia dos peixes acrobatas...

:)


Friday, 11 May 2012


A vida, às vezes, consegue ser um autêntica merda. Especialmente quando somos "roubados" de um enorme mundo de talento na forma de um ser humano. Que continuemos a ouvir o som dos seus dedos nas teclas de um piano para nos lembrarmos da sua memória luminosa que nos iluminou até ao triste dia de hoje...


Thursday, 3 May 2012


A Terra ainda é um sítio melhor para viver que a Lua. Mesmo nos seus cantinhos mais recônditos.


Thursday, 12 April 2012

A propósito da MAC...


Fui recordado que a minha antiga escola primária também já não existe. Era uma pequena ilha de ensino no meio de alguns dos prédios mais antigos da freguesia. Era feita de pavilhões de madeira, tinha árvores, e recreios para brincar, e espaço para correr. Se eram as melhores instalações escolares do mundo? Não, longe disso. Mas sempre foram mais do que suficientes para os alunos que havia na altura, sempre houve salas suficientes, sempre houve professores e auxiliares capazes de controlar algumas das crianças mais destravadas que conheci em toda a minha vida. E nem mesmo uma cabeça partida me faz ter menos saudades daquela escola que conheci desde os meus três anos de idade até à altura que parti para a preparatória. Foi abaixo, com a justificação de instalações mais modernas e a necessidade de albergar muitos mais alunos do que aquilo que conseguia. Nunca construíram outra no seu lugar. Nem tal se pedia. Mas havia tanta coisa que podia ali ter nascido para, de algum modo, honrar aquele antigo local de aprendizagem escolar e mesmo de como crescer enquanto cidadão deste mundo. Um jardim, uma biblioteca, tanta, tanta coisa. Ficámos com um parque de estacionamento. Uma coisa necessária, sem dúvida, tendo em conta a falta de planeamento urbano que sempre reinou naquele local, mas mais cimento cinzento povoado por coisas sem vida. Acho que nem sequer a árvore que há tantos anos ajudei a plantar, acho que nem sequer ela sobreviveu. Nem sempre penso nestas coisas quando passo à frente daquele espaço que me deixou tantas memórias. Mas, às vezes, por vezes, lá me passa de repente uma imagem, um som, uma voz, uma espécie de fotografia em movimento, que acaba sempre por me lembrar que, enquanto os anos passam e inevitavelmente crescemos, há algumas partes do nosso mundo emocional que simplesmente acabam. Seja ou não quinta-feira...

Sunday, 8 April 2012

And that is it. There is still nothing else to say. No easy breaks. No sweet excuses. I might return and hold you; I am might return to my old ways and smile. But for now I am enjoying this strangely appealing selfish version of me. I am taking my time and I am taking it slow. Who knows, I might be waiting for you to prove me wrong, to surprise me with some out of the blue delightful small little nothing. One thing is sure I am not putting the stress on me.

Wednesday, 29 February 2012

O silêncio continua a ser a melhor resposta. A única disponível, a que me apetece. As palavras guardo as para mim, que lhes dou valor, que as sinto. A conversa morre à nascença, o som dorme. E nada há a dizer, nada, a não ser fim.

Thursday, 23 February 2012


Amigo
Maior que o pensamento
Por essa estrada amigo vem
Não percas tempo que o vento
É meu amigo também



Fazes falta, meu amigo. Fazes muita falta.



Thursday, 9 February 2012

I am here. I just do not want to speak. Not keen on small talk or trivial weather conversation. I have no wish to make believe everything is all right, nor do I want to make this a drama story. It is just that words are not coming out of my mouth and I do not feel the need or the will to make an effort. And no, I am not going to make things easier for you. It is my time to not think about the others (even if just in small doses and every now and then).
Como é que foste capaz de fazer tal coisa?

Nem sequer consigo exprimir a minha surpresa, tristeza, falta de palavras.... enfim.

Não sei realmente o que te passou pela cabeça, mas espero, para o bem de toda a gente e especialmente daqueles que te estão mais próximos, que arrumes todas as tuas ideias, que penses bem o que queres da vida e que não te esqueças do que é realmente essencial.

Viver. Com mais ou menos dificuldades. Viver. Sempre.

(a dobrar)


Thursday, 2 February 2012

"Falemos de casas, do sagaz exercício de um poder
tão firme e silencioso como só houve
no tempo mais antigo.
Estes são os arquitectos, aqueles que vão morrer,
sorrindo com ironia e doçura no fundo
de um alto segredo que os restitui à lama.
De doces mãos irreprimíveis.
- Sobre os meses, sonhando nas últimas chuvas,
as casas encontram seu inocente jeito de durar contra
a boca subtil rodeada em cima pela treva das palavras.

Digamos que descobrimos amoras, a corrente oculta
do gosto, o entusiasmo do mundo.
Descobrimos corpos de gente que se protege e sorve, e o silêncio
admirável das fontes –
pensamentos nas pedras de alguma coisa celeste
como fogo exemplar.
Digamos que dormimos nas casas, e vemos as musas
um pouco inclinadas para nós como estreitas e erguidas flores
tenebrosas, e temos memória
e absorvente melancolia
e atenção às portas sobre a extinção dos dias altos.

Estas são as casas. E se vamos morrer nós mesmos,
espantamo-nos um pouco, e muito, com tais arquitectos
que não viram as torrentes infindáveis
das rosas, ou as águas permanentes,
ou um sinal de eternidade espalhado nos corações
rápidos.
- Que fizeram estes arquitectos destas casas, eles que vagabundearam
pelos muitos sentidos dos meses,
dizendo: aqui fica uma casa, aqui outra, aqui outra,
para que se faça uma ordem, uma duração,
uma beleza contra a força divina?

Alguém trouxera cavalos, descendo os caminhos da montanha.
Alguém viera do mar.
Alguém chegara do estrangeiro, coberto de pó.
Alguém lera livros, poemas, profecias, mandamentos,
inspirações.
- Estas casas serão destruídas.
Como um girassol, elaborado para a bebedeira, insistente
no seu casamento solar, assim
se esgotará cada casa, esbulhada de um fogo,
vergando a demorada cabeça para os rios misteriosos
da terra
onde os próprios arquitectos se desfazem com suas mãos
múltiplas, as caras ardendo nas velozes
iluminações.

Falemos de casas. É verão, outono,
nome profuso entre as paisagens inclinadas
Traziam o sal, os construtores
da alma, comportavam em si
restituidores deslumbramentos em presença da suspensão
de animais e estrelas,
imaginavam bem a pureza com homens e mulheres
ao lado uns dos outros, sorrindo enigmaticamente,
tocando uns nos outros –
comovidos, difíceis, dadivosos,
ardendo devagar.

Só um instante em cada primavera se encontravam
com o junquilho original,
arrefeciam o resto do ano, eram breves os mestres
da inspiração.
- E as casas levantavam-se
sobre as águas ao comprido do céu.
Mas casas, arquitectos, encantadas trocas de carne
doce e obsessiva - tudo isso
está longe da canção que era preciso escrever.

- E de tudo os espelhos são a invenção mais impura.

Falemos de casas, da morte. Casas são rosas
Para cheirar muito cedo, ou à noite, quando a esperança
Nos abandona para sempre.
Casas são rios diuturnos, nocturnos rios
Celestes que fulguram lentamente
Até uma baía fria – que talvez não exista,
como uma secreta eternidade.

Falemos de casas como quem fala da sua alma,
Entre um incêndio,
Junto ao modelo das searas,
na aprendizagem da paciência de vê-las erguer
e morrer com um pouco, um pouco
de beleza."

Herberto Helder


(Haja casas. Muitas. Uma aqui, outra além, outra acolá. Sempre.)

(a dobrar)

Thursday, 26 January 2012

Cansado.
Cansado de gente que teima em complicar o que é simples.
Cansado de gente que apenas pensa em números e que tende a pensar que as pessoas não passam de meras máquinas para satisfazerem tudo o que lhes pedem, ignorando por completo a verdadeira realidade que, de tanto tempo passarem fechados nos seus gabinetes, praticamente desconhecem e não fazem o esforço para inverter esse caminho.
Cansado de tantas diferenças haverem para que as semelhanças apareçam tão destacadas.
Cansado, enfim.
Talvez seja o frio que me deixa assim.
Ou não.
Seja como for, venham os dias intermináveis.


Thursday, 12 January 2012

A austeridade saiu à rua num dia assim
Em todo o lado desta terra sem fim

Um desempregado sobre a calçada cai
E milhares de outros mais vêm atrás

O vento que varre todo o nosso mal
E os bons vão saíndo de Portugal

E os posts em todas as redes sociais
Vão dizendo em toda a parte o primeiro-ministro morreu

Teu sangue, ministro, de nada nos vale
Mas sempre é mais um corte na despesa mole

Nenhum hospital público te salvou
Teu corpo pertence ao são bento que te abraçou

Todos os que mandaste emigrar
Já não vão a tempo de se salvar

Na curva da estrada há deputados no chão
E em todas florirão ordenados de uma nação


(não querendo desrespeitar o nosso maior cantor de sempre, mas hoje andei o dia todo com estas palavras na minha cabeça... triste estado em que o nosso país se encontra...)

Monday, 9 January 2012

Fim de semana cheio (de amigos, de convívio, de sol). Vida em roda viva. Esticar dos minutos à exaustão. E agora sofá. Calor da manta. Doces monólogos entre mim e eu.


(Os extremos complementam-se - e na maior parte das vezes - são deliciosos).

Thursday, 5 January 2012




Sempre a olhar para cima. Ora aí está um excelente conselho. Ainda que subentendido.