Não sei se foi o cansaço da alma que extravasou para o corpo, ou cansaço do corpo que extravasou para a alma. O facto é que estou exausta. E ambos corpo e alma reclamam pequenas e grandes maleitas.
O cansaço pesa-me em todos os músculos, como se algo pressionasse de verdade o meu corpo. Uma dor física que traduz muito do que vai em mim. A minha mente demora-se em tarefas familiares, ignorando (as minhas) chicoteadas psicológicas ou pedidos singelos. E uma espécie de tristeza, que teimo em rejeitar, mostra-se logo ali, ao virar da esquina. Nem a ventania que se fez sentir, me arejou por completo.
Parece que o meu corpo (ou alma, ou talvez os dois em cabala holística contra mim) se cansou de me deixar recados carinhosos aqui e ali, de me dizer simpaticamente que estava na altura de abrandar, e sem mais, nem ontem, me cortou acesso, me negou poder de decisão.
Porque nestes últimos dias não me é permitido exigir, é-me exigido que permita descansar.
Monday, 30 March 2009
Thursday, 26 March 2009
Ontem esteve perto de acabar. Não o mundo, que até parece começar a entrar nos eixos, mas a pessoa que escreve esta meia-dúzia de linhas. Uma queda, mesmo que ao mesmo nível, não deixa de ser uma queda. Não revisitei o cliché da vida passada que nos passa pelo olhos numa questão de nanosegundos, com alguma pena minha, pois algumas coisas até gostava de ver de novo, mais não seja pela questão da focagem da nossa memória fotográfica.
Acho que acaba sempre por ser uma questão selectiva do nosso cérebro. Algumas coisas que queremos guardar na nossa "bagagem" ficam nítidas para sempre, ainda que na altura em que ocorreram a focagem fosse mais que dúbia, e sem dúvida que parte dos pormenores são como peças de puzzle que lá faltavam e a nossa mente, consciente ou não, trata de arranjar e completar o ramalhete. E no inverso? Acontecimentos que nos marcaram da pior forma, nítidos como cicatrizes que nos rasgam a pele, mas que por alguma razão não os queremos guardar connosco de tão dolorosos que são, que aos poucos deixamos que se tornem polaróides gastas pelo tempo e com nitidez galopantemente fraca. Escolhas do nosso âmago, acho eu.
Se calhar isso justifica o porquê de não me lembrar de pormenores da queda. O porquê deste ou daquele corte, de onde apareceu aquele hematoma. Apenas o antes e o depois. O durante ficará perdido num qualquer limbo da minha memória. Apenas as causas e as consequências ficam, sendo que estas últimas me doem mais que qualquer espécie de fotografia de outros tempos...
Acho que acaba sempre por ser uma questão selectiva do nosso cérebro. Algumas coisas que queremos guardar na nossa "bagagem" ficam nítidas para sempre, ainda que na altura em que ocorreram a focagem fosse mais que dúbia, e sem dúvida que parte dos pormenores são como peças de puzzle que lá faltavam e a nossa mente, consciente ou não, trata de arranjar e completar o ramalhete. E no inverso? Acontecimentos que nos marcaram da pior forma, nítidos como cicatrizes que nos rasgam a pele, mas que por alguma razão não os queremos guardar connosco de tão dolorosos que são, que aos poucos deixamos que se tornem polaróides gastas pelo tempo e com nitidez galopantemente fraca. Escolhas do nosso âmago, acho eu.
Se calhar isso justifica o porquê de não me lembrar de pormenores da queda. O porquê deste ou daquele corte, de onde apareceu aquele hematoma. Apenas o antes e o depois. O durante ficará perdido num qualquer limbo da minha memória. Apenas as causas e as consequências ficam, sendo que estas últimas me doem mais que qualquer espécie de fotografia de outros tempos...
Thursday, 19 March 2009
E depois de umas dezoito horas de trabalho quase seguidas, o mundo podia mesmo acabar que eu provavelmente nem iria reparar nisso, a menos que fosse obrigado.
E chega-se a casa já na madrugada de um outro dia, com as ruas quase desertas, com muito poucas aspirações a não ser uma cama e umas quantas horas de sono, e acaba-se confrontado com a fuga à solidão que tantas e tantas pessoas manifestam quase todos os dias. Com a diferença que já é quase meia-noite e meia e esperava-se tudo menos um boa noite do outro lado da rua.
Seja a afinidade de trabalhar fora de horas, ou a afinidade da falta de estacionamento numa rua que mais lembra o bairro alto numa noite de santos, ou a afinidade de já termos trabalhado a uma centena de metros um do outro, o certo é que o boa noite despoletou uma conversa de todo inesperada.
Em cinco minutos, mais palavras trocadas do que em alguns anos de vizinhança. Em quatro minutos de escadaria, e mais algum cansaço para o acumulador, um sentimento quase a roçar a solidariedade, sim, eu também estou aqui, cansado de tanta labuta, e percebo perfeitamente de onde vens, e já sabes que não estás sozinho nesta luta contra o resto do mundo que já dorme tranquilamente nas suas residências. E ainda aproveitamos para nos rirmos com a impossibilidade de termos um carro ainda portátil que um smart, só para agarrarmos aqueles últimos centrímetros de óasis estacionável.
Definitivamente, o ser humano ainda tem a capacidade de me surpreender nas alturas mais bizarras. E ainda bem que isso acontece, na margem deste precípio que, curiosamente, tende mesmo a acontecer às quintas-feiras. Ou então já é um estereótipo...
E chega-se a casa já na madrugada de um outro dia, com as ruas quase desertas, com muito poucas aspirações a não ser uma cama e umas quantas horas de sono, e acaba-se confrontado com a fuga à solidão que tantas e tantas pessoas manifestam quase todos os dias. Com a diferença que já é quase meia-noite e meia e esperava-se tudo menos um boa noite do outro lado da rua.
Seja a afinidade de trabalhar fora de horas, ou a afinidade da falta de estacionamento numa rua que mais lembra o bairro alto numa noite de santos, ou a afinidade de já termos trabalhado a uma centena de metros um do outro, o certo é que o boa noite despoletou uma conversa de todo inesperada.
Em cinco minutos, mais palavras trocadas do que em alguns anos de vizinhança. Em quatro minutos de escadaria, e mais algum cansaço para o acumulador, um sentimento quase a roçar a solidariedade, sim, eu também estou aqui, cansado de tanta labuta, e percebo perfeitamente de onde vens, e já sabes que não estás sozinho nesta luta contra o resto do mundo que já dorme tranquilamente nas suas residências. E ainda aproveitamos para nos rirmos com a impossibilidade de termos um carro ainda portátil que um smart, só para agarrarmos aqueles últimos centrímetros de óasis estacionável.
Definitivamente, o ser humano ainda tem a capacidade de me surpreender nas alturas mais bizarras. E ainda bem que isso acontece, na margem deste precípio que, curiosamente, tende mesmo a acontecer às quintas-feiras. Ou então já é um estereótipo...
Engraçado... a memória fotográfica que temos de alguém com o tempo perde a nitidez. Fica envolta numa espécie de névoa e é necessário fazermos um certo esforço para nos lembrarmos do rosto, da imagem por inteiro.
Às vezes a mente por querer negar o seu desajustamento invoca fotografias reais (expostas em molduras ou guardadas em gavetas), momentos que pararam no tempo. Mas por mais desfocada que a imagem esteja, o sentimento continua lá, com contornos intactos, sem perder a essência.
Às vezes a mente por querer negar o seu desajustamento invoca fotografias reais (expostas em molduras ou guardadas em gavetas), momentos que pararam no tempo. Mas por mais desfocada que a imagem esteja, o sentimento continua lá, com contornos intactos, sem perder a essência.
Thursday, 5 March 2009
Como diz o outro "there are no free lunches" e tal como no mundo dos negócios também nas amizades tem de haver reciprocidade e benefícios para todos os envolvidos.
Talvez pareça uma versão demasiado comercial e capitalista, mas na realidade não é: as amizades permitem desencontros e mal-entendidos, palavras duras e até traições, estas são, aliás, algumas das suas melhores características, mas nenhuma amizade sobrevive ao desinteresse repetido e continuado de uma das partes (ou das duas). A mesma coisa se passa com o amor.
E esta mania que agora há de querer que os laços que unem as pessoas apareçam quase por geração espontânea, sem necessidades de cuidados, ou preocupações, sem manutenção... faz com que geralmente se troque o espaço e silêncios que as amizades proporcionam (e devem proporcionar) por alheamento em relação aos outros.
Talvez pareça uma versão demasiado comercial e capitalista, mas na realidade não é: as amizades permitem desencontros e mal-entendidos, palavras duras e até traições, estas são, aliás, algumas das suas melhores características, mas nenhuma amizade sobrevive ao desinteresse repetido e continuado de uma das partes (ou das duas). A mesma coisa se passa com o amor.
E esta mania que agora há de querer que os laços que unem as pessoas apareçam quase por geração espontânea, sem necessidades de cuidados, ou preocupações, sem manutenção... faz com que geralmente se troque o espaço e silêncios que as amizades proporcionam (e devem proporcionar) por alheamento em relação aos outros.
Isto de ser confrontado com as nossas amarguras via éter tem muito que se lhe diga. Até porque o que foi dito até trazia consigo uma certa aura de pan-pipes que normalmente apenas causa o escárnio e mal-dizer. O problema... O problema acaba por ser o piloto automático. Se este não existisse, mesmo com obras de ampliação, lama e vidros a precisar de água, talvez o cérebro estivesse mais desligado ou mais concentrado no caminho, e assim não lhe desse para o denaveio súbito, acabando por fazer uma tempestade num copo de água que, sinceramente, já não bebia há algum tempo. E de repente a sede fez-se rio de lágrimas amargas, daquelas que preferimos não conhecer, mas que a vida madrasta nos faz questão de recordar, talvez para melhor sabermos que não há nada eterno, nem as tristezas nem as alegrias, tudo está sempre à beira de um precípicio, ou melhor, de uma montanha-russa que eventualmente nos devolva à casa de partida.
Estou ao lado.
E vou largar a oxigénio de lado.
Wrong time. Wrong theories. Wrong page.
Estou ao lado.
E vou largar a oxigénio de lado.
Wrong time. Wrong theories. Wrong page.
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