Thursday, 31 December 2009

E assim passou um ano das nossas vidas.
Irá amanhã fazer um ano que este blogue existe.
Continua a existir mundo.
Continuam a existir quintas-feiras.
Nenhuma destas coisas acabou realmente.
Neste ano muita coisa se escreveu por aqui.
Da minha contribuição apenas posso dizer que nem sempre houve tempo.
Daí terem havido muitas duplicações com um outro espaço.
Não que isso tenha trazido muito sentido às palavras que aqui deixei.
Penso que não fosse esse o objectivo.
Uma vez que o mundo não acabou, penso que de alguma forma o objectivo não foi mesmo cumprido, de qualquer maneira.
Tal como as minhas palavras, também as da RF me pareceram por vezes indecifráveis.
Mas tal como gostei de escrever as minhas, também gostei de ler as delas.
E gostei de partilhar este espaço com ela.
Teve piada, o que é sempre bom.
Quanto à Nina, pode ser que no novo ano que amanhã começa decida escrever alguma coisa.
Alguma coisa, nada de especial, pode ser só uma frase.
Até pode ser uma citação de alguém.
Ou até a previsão do tempo para Luanda.
O que tu quiseres, não sejas esquisita.
É claro que há sempre a hipótese do mundo acabar com o virar do ano.
Aliás, quem veja os recentes telejornais, fica mesmo com a sensação que está para chegar o dilúvio que vai acabar com todos os dilúvios.
O que é mau, pois ainda não comecei a construir a minha arca.
E ainda tenho muitos livros para ler que nem sequer comecei.
E ainda há não sei quantos discos para ouvir no disco rígido.
E afinal de contas ainda só plantei uma árvore e escrevi um livro.
Não se deve deixar as coisas a meio.
Mas também não sei se este blogue continuará a existir.
Caso estas sejam as últimas palavras, faço um apelo às restante colaboradoras.
Podíamos mudar o título do blogue, não acham?
O blogue acaba à quinta-feira.
Terminal.
Definitivo.
Morto e enterrado.
Paz à sua alma.

(Logo se verá, depende do quanto bebermos daqui a uns minutos...)


Serei eu a esperar mais de 2010, ou 2010 a esperar mais de mim?

(Beijos a todos. Boa sorte. Saúde. E tudo mais que precisarem ou quiserem)

Thursday, 24 December 2009

Ao contrário de outros anos, hoje faltam-me as palavras. Não que tenha perdido o meu espírito natalício, muito pelo contrário. Simplesmente as palavras escapam-me, soltaram-se, andam por aí, espalhadas pelo mundo, numa edição limitada àqueles que ocupam pequenos espaços no meu coração. Espaços alegres e emocionais, tudo menos cinzentos, como alguém comentava no outro dia. E assim não há muito mais a dizer. Deixo-vos uma música do meu filme de Natal preferido. Feliz Natal a todos e todas!

Friday, 18 December 2009

Tinha tanto para dizer, mas faltou-me tempo para o fazer. E agora parece que o encanto se perdeu. As palavras mantêm a razão de ser, mas não o fulgor. A essência do que foi esbate-se, como se o tempo para partilhar (e reviver) as coisas fosse aquele e não outro. Nada se perdeu a não ser a aptidão para partilhar a intensidade e autenticidade mansa de momentos sobrepostos continuamente, segundos intimamente ligados entre si que nos fazem ser quem somos, que nos recordam quem fomos.

Restam apenas frases soltas, resquícios de pensamentos. Fora de ordem, sem contexto. Alguns poderão achar que sabem a que me refiro, outros associarão experiências que nada me dizem. A verdade é que apenas eu sei a realidade das minhas palavras.

Na ausência de fio condutor aqui ficam fragmentos do que foi e continua ser importante:

"quem disse que o caminho é tão ou mais importante que o destino, tinha razão. Gosto do verde, gosto de aqui vir, gosto do percurso para cá chegar. Gosto da simplicidade de comprar fruta, legumes e queijo a céu aberto. Gosto de continuar mais longe e desfrutar do peixe e do mar."

" E eu fiquei com 3 para as minhas 3 meninas.", " Às vezes as prendas valem mais pelas palavras que as acompanham."

" Não se pode ter tudo. Depois cresce."

"A música aqui não faz falta, andar a pé com os próprios pensamentos, sol e vento é do melhor que se leva da vida"

" O termo melhor amigo não faz justiça aos melhores amigos."

"Foram dias bons, o dia antes, o dia em si, e o dia depois".



Thursday, 10 December 2009

"Experiência intemporal, deliciosa para quem
aprecia as antigas castas do Douro Tinta
Roriz, Touriga Franca e Touriga Nacional,
na sua inocente e virtuosa nudez original,
sem madeira. Um regresso ao passado,
intenso e aveludado. É rubi com taninos
suaves. Ideal para acompanhar momentos
de profundo requinte..."

É um rótulo, é verdade. Mas na verdade é muito mais que um rótulo. É uma cumplicidade que tiveste a enorme gentileza de partilhar comigo. Ou, nas tuas próprias palavras, a celebração da proximidade. E é um rótulo que significou uma conversa longa e bonita, daquelas que quando vamos a ver duraram horas e ao mesmo tempo foram apenas um breve instante. O tempo de uma imperial, infelizmente sem tremoços. E para mais, ainda teremos muita conversa para pôr em dia, ao mesmo tempo que asseguraremos que os senhores carteiros continuarão a ter com que se entreter. Foi muito bom. Até já, minha bonita calamidade.

Thursday, 26 November 2009

Esta coisa da reencarnação continua a perseguir-me...
Se calhar estou como o outro, sempre em busca da garrafa da cerveja, sem nem sequer ter tempo para olhar para tudo o resto em redor...
O que me safa é o momento "sopa da pedra". Ou melhor, os momentos...




"Wish I were. Would have preferred to be one. Oh, yes, absolutely. No two ways about that. Much prefer to be a crow. They don't have to worry about moving to get away from anybody or anything. They just move. They don't have to pack anything. They just go. When they get smashed by something, that's it, it's over. Tear a wing, it's over. Break a foot, it's over. A much better way than this. Maybe I'll come back as one. What was I before that I came back as this? I was a crow! Yes! I was one! And I said, "God, I wish I was that big-titted girl down there," and I got my wish, and now, Christ, do I want to go back to my crow status. My status crow. Good name for a crow. Status. Good name for anything black and big. Goes with the strut. Status."

Philip Roth

Wednesday, 25 November 2009

Marés-vivas fora de horas, dando a quem quisesse uma tarde banhada a mar e sol de inverno. O rebentar das ondas, impondo respeito, cativando num ritmo simultaneamente imponente e apaziguador, gerando espuma em catadupas, lembrando erupções vulcânicas feitas de neve marítima... possibilitando um desprendimento perfeito.

Não sei como seria a minha vida se não tivesse tido oportunidade de ver o mar, de me habituar a contar com ele para curar as maleitas da alma, e até do corpo. Sei que se hoje me faltasse, a minha vida seria inevitavelmente mais cinzenta e pesada, mais desprovida de leveza.

Thursday, 19 November 2009

Para não me estar a repetir, basta fazer copy/paste das primeiras quatro frases da semana passada e inseri-las aqui. Não há muito mais para dizer, realmente.

E sim, a música dos OqueStrada também se pode manter. No tengo patchorra...

Thursday, 12 November 2009

Saudades das maravilhas do silêncio, de tardes passada à beira-rio, com livros por companhia. Deliciosa redenção das palavras mudas, sem necessidade de conversas ocas ou de circunstância. Nostalgia das caminhadas sem destino, pelo prazer de dar o passo, pela leveza de ir sem horário de voltar.
Estamos em Novembro.
Não apanhei trânsito hoje.
Esteve um sol maravilhoso.
Ainda não comprei uma única prenda de Natal.

Querem melhores sinais de que o mundo está prestes a acabar? E não, não vai ser em 2012 como andam por aí a anunciar num filme da treta, igual a todos os outros filmes da treta que o Emmerich já fez. A sério, quantas vezes mais (e de que forma) seremos "obrigados" a ver a destruição da Casa Branca? E da torre Eiffel? E do Taj Mahal? E porque é que nunca assistimos à destruição massiva do Colombo? Isso é que era...


Mañana no tengo patchorra prá ti
Mañana no tengo patchorra prá ti
Mañana no tengo patchorra prá ti
... Mas hoy creo que te amo.

(Creo Cariño, OqueStrada)

Sunday, 8 November 2009

Feitas as contas não foi uma semana nem má, nem boa, mas teve os seus inconvenientes e despertou pequenos nadas de inquietude, que podem esmorecer ou sobejar.

A minha intenção era percorrer pela matemática dos factos, sem grandes pormenores ou constatações, vaguear por este estado de espírito insípido e passível de se tornar outro mais definido em cor e contornos.

Mas entretanto ao pé de mim ficou uma gata enroscada. Dormitando junto à minha perna esquerda. Transbordando amor incondicional e carinho, que resiste à minha falta de tempo e às vezes paciência, e percebi que era disso que devia falar, quanto mais não seja para ajudar algumas pessoas a perceber para que servem os gatos.

Thursday, 5 November 2009

Quando as palavras não nos servem para nada, quando sentimos que elas não conseguem sequer descrever da forma certa como nos sentimos, o que é que podemos fazer? Bom, o melhor é ainda ficarmos quietos e quedos no nosso cantinho, e deixar que as palavras de outrém, como as belas palavras do João, sejam o farol que ilumina verdadeiramente o nosso estado de alma.

"uma prosa enferrujada
inconviniente e desajeitada
não encontro vestido que me sirva
já não sirvo para nada"

in Esta depressão que me anima, A Naifa


Thursday, 29 October 2009

Tal como tantas outras coisas a esperança tem de ser qb, para não resultar oca, vazia de sentido, desprovida de realismo. Sim, porque uma coisa é ter esperança, outra é navegar em divagações delirantes que muitas vezes roçam o doentio e acabam por limitar o que de facto existe, o que de facto tem potencial para despertar.

Talvez viver seja isso, acreditar (lutando as vezes que forem necessárias) sem perder a noção da realidade (e isso implica o bom e o mau que a realidade tem, porque muitas vezes o que há de bom fica soterrado num emaranhado de descontentamentos) nem o tempo das coisas, numa tentativa constante de alcançar o equilíbrio.

Sim, que como dizia a minha avó "no meio é que está virtude".

(os que me conhecem sabem que gosto de palavras "antigas", provérbios e outros que tais... e que eu própria sou meia antiga, uma mistura apurada - espero eu - do bom de hoje e de ontem).
"Andamos todos meios perdidos, disse ela de forma contemplativa e quase resignada, como se lutar contra a vida fosse semelhante a lutar contra o mar em tempos de bandeira vermelha. Como se apenas fosse possível tentarem manterem-se à tona."

(palavras de RF)

E se ela fosse a única que tentava de alguma forma nadar contra as vagas negras que a envolviam? O oceano conseguia ser um lugar muito solitário, mas naquele momento qualquer ponto do planeta seria solitário. Ela era a única que ainda nadava naquelas águas, que ainda caminhava por caminhos outrora povoados, que ainda palmilhava estrada citadinas há muito abandonadas. O silêncio daquele mundo apenas era quebrado pelo vento e pela chuva e trovoada que antecipava a vinda da noite. E a noite, com a sua escuridão negra e impiedosa, trazia-lhe uma espécie de reconforto retorcido. Ela preferia a ausência de luz àqueles dias mortos que a acompanhavam para todo o lado. Aquela luz cinzenta, mortífera, para sempre filtrada pelas nuvens que cobriam todo o planeta. Até o mar tinha perdido os seus azuis, os seus verdes, apenas ondas negras, umas atrás das outras. Não sabia porque razão ainda não tinha acabado com a sua vida, como tantos outros antes dela. Existia ainda algo dentro dela que lhe pedia, lhe suplicava para continuar a respirar, para continuar a enfrentar a morte de frente. Não sabia por quanto mais tempo esse sentimento perduraria. Sentia-se a afundar lentamente, para dentro de um mundo que não descansaria até sugar toda e qualquer réstia de esperança humana à sua face. Manter-se à tona? Sim, continuaria a fazê-lo, sozinha e sem mais ninguém nem nada pelo qual fazê-lo.

Espécie de homenagem fraquinha ao mestre.

Thursday, 22 October 2009

Hoje não me apetece dizer nada, nada que importe, nem ouvir ninguém, mas também não quero mergulhar no silêncio. Tenho medo de gostar demasiado da ausência de som, de colocar os outros muito para lá dos meus limites, como se a distância socialmente aceite ultrapassasse os seus 60 cm (foi o que eu registei mentalmente um dia que li um estudo qualquer, e não garanto que não esteja a baralhar circuitos e a debitar uma outra distância armazenada nos meandros do meu cérebro) e fosse esticada para além do universo.

Talvez me sinta assim porque hoje o meu cérebro para além de cansado, está um pouco confuso, e se sente real e inocentemente incomodado com o som dos telemóveis, com as pessoas a falarem alto, com movimentos repentinos e filas de trânsito em pára arranca, sentindo uma necessidade de se trancar numa redoma protectora.

Ou talvez seja, porque sempre gostei de estar sozinha, comigo mesma e hoje sou (muito) mais que suficiente.

Thursday, 15 October 2009

hoje não uso as minhas palavras. deixo essa tarefa para o Manuel Cruz, que o faz muito melhor do que eu. da minha exclusiva responsabilidade, fica o negrito.

Ouvi dizer que o nosso amor acabou.
Pois eu não tive a noção do seu fim
Pelo que eu já tentei,
Eu não vou vê-lo em mim:
Se eu não tive a noção de ver nascer um homem.
E ao que eu vejo,
Tudo foi para ti
Uma estúpida canção que só eu ouvi
E eu fiquei com tanto para dar!
E agora
Não vais achar nada bem
Que eu pague a conta em raiva!
E pudesse eu pagar de outra forma.

Ouvi dizer que o mundo acaba amanhã,
E eu tinha tantos planos pra depois!
Fui eu quem virou as páginas
Na pressa de chegar até nós;


Sem tirar das palavras seu cruel sentido
Sobre a razão estar cega:
Resta-me apenas uma razão,
Um dia vais ser tu
E um homem como tu;
Como eu não fui;
Um dia vou-te ouvir dizer:
E pudesse eu pagar de outra forma! Sei que um dia vais dizer:
E pudesse eu pagar de outra forma!

A cidade está deserta,
E alguém escreveu o teu nome em toda a parte:
Nas casas, nos carros, nas pontes, nas ruas.
Em todo o lado essa palavra
Repetida ao expoente da loucura!
Ora amarga! ora doce!
Pra nos lembrar que o amor é uma doença,
Quando nele julgamos ver a nossa cura!

"Ouvi Dizer", Ornatos Violeta

Friday, 9 October 2009

Andamos todos meios perdidos, disse ela de forma contemplativa e quase resignada, como se lutar contra a vida fosse semelhante a lutar contra o mar em tempos de bandeira vermelha. Como se apenas fosse possível tentarem manterem-se à tona.

Já há algum tempo que olhava em redor e se apercebia que o descontentamento manso que sentia agora de forma quase regular se estendia aos que a rodeavam. Ainda não tinha decidido se isso de alguma forma a consolava, ou a deixava ainda mais ausente de esperança.

Thursday, 8 October 2009

E foi assim que se começou uma tradição de amizade, alegria e o adn de alguém muito duvidoso...


Tomorrow is a happy day, tomorrow is bucket day, don't forget your adn...

Thursday, 1 October 2009

Acabei de me aperceber de uma verdade (que não política).

Gostava de ter um ferrari e uma conta bancária avultada, e ser um bem sucedido profissional, para passados uns anos chegar à conclusão que não era feliz nem saudável física e mentalmente, e deixar tudo para trás e vender o meu ferrari, e partir numa demanda pela minha paz espiritual, acabar perdido numa qualquer cadeia montanhosa coberta de neve, escapar às garras do abominável homem das neves, para acabar nas garras de uns quantos monges a viverem num vale perdido de uma beleza indescritível, tornar-me pupilo desses mesmos monges que parecem umas cópias uns dos outros, passar meia dúzia de anos em ensinamentos profundos, atingir um estado de comunhão com todo o universo numa manhã particularmente luminosa, escapar às garras dos monges que já não tinham nada para me ensinar, voltar ao mundo dito civilizado, espalhar a boa nova do meu estado de comunhão com o universo com todas as pessoas que me aparecessem pela frente, elaborar uma tourné de palestras onde explicaria às pessoas como podiam ser muito mais felizes se seguissem os meus ensinamentos, lançar livros em série sobre todos os passos iluminados que me levaram à minha comunhão com o universo de modo a que muitos milhões de pessoas o pudessem comprar para serem também bafejadas pela iluminação espiritual, conseguir ser portanto um monge extremamente bem sucedido, com uma conta bancária super-hiper-mega avultada, e no final do dia poder escolher entre qual dos dez ferraris estacionados à porta da minha mansão iria encetar uma nova viagem de paz espiritual até ao aeroporto em trânsito para a minha ilha particular.

Ufa, o que seria de nós sem guias espirituais que falam da verdade (que não política). E sem vulnerabilidades (que não políticas).

Thursday, 24 September 2009

... quando o mundo parece estar a acabar, nada como ter um bom grupo de sacanas à mão.


«Say "auf Wiedersehen" to your Nazi balls!»


Thursday, 10 September 2009

O que é que passa pela cabeça de uma pessoa enquanto caminha durante treze quilómetros? Será que os pensamentos também se distraem com a paisagem, com o mar, com as ondas, com o céu, com as outras pessoas que andam ao nosso lado, que correm ou que pedalam? O silêncio não é total, há sempre um carro ou outro a passar na estrada, mas há alturas do caminho em que só ouvimos o mar, o vento, as nossas vozes a serem levadas pelo vento e, já muito ao longe, o toque de alarme de um farol. E por ínfimos segundos, o cérebro concentra-se, os neurónios reunem-se para um só pensamento, e somos invadidos por uma enorme onda de ansiedade. Ânsia para vermos a meta, o destino final, o horizonte a transformar-se em todos os nossos sonhos. Seria bom que bastassem apenas uns míseros treze quilómetros para que tudo se tornasse cristalino e tão óbvio que nem pareceria que o caminho tinha passado de uma pequena ruela para uma enorme recta islandesa. Sem gravilha, é certo, pelo menos não no sentido físico a que estamos habituados. Mas outros nevoeiros se levantam, outras nuvens negras vão surgindo, relâmpagos aparecem do nada, tudo meros sinais de uma provação que acaba de começar. A mente ressente-se, nada se consegue sem esforço, e os músculos gritam por todos os lados, rebeliando-se contra qualquer milímetro de avanço que nos atrevamos a dar. É uma luta fraticida, pois somos nós contra nós próprios, mind over matter e todas essas merdas de pacotilha que não passam de páginas mal impressas em livros de prateleira de hipermercado. Mas no final do dia, e quando limpamos o suor da testa, e esticamos todos os músculos do corpo até ao ponto em que parece que vamos quebrar em mil e um bocados, o nevoeiro fugiu, as nuvens negras dissiparam-se, os relâmpagos não passam de pequenos raios que saltam na superfície do sol que brilha e que nos aquece, qual amigo que nos suporta, espera por nós e que praticamente nos pega ao colo, dando tanto de si que quase parecemos um. Até ao momento em que cruzamos a linha de chegada e sorrimos o sorriso dos justos, dos que merecem ser felizes, no matter what...

(a dobrar)

E verdadeiramente, o mundo começou à quinta-feira.

Monday, 31 August 2009

Há filmes que valem a pena. Que nos marcam, e nos fazem pensar, que nos abraçam e convidam alternadamente ao riso, e à lágrima (que muitas vezes sem aparecer se faz sentir). Filmes que nunca vamos esquecer, porque retratam a vida de uma forma sublimemente simples e forte, que torna impossível a indiferença e nos deixa ausentes de vazio.

(E o mundo deu-me a mão a uma sexta-feira e deixou-me ver um filme que não consegui ver quando esteve em exibição, num dos meus cinemas preferidos. "O Visitante", para quem tem curiosidade.).

Thursday, 27 August 2009

O que não nos mata, torna-nos mais fortes.

É daquelas coisas que, por muito new age e self-help me soe aos ouvidos, tenho de concordar plenamente. Aliás, já tenho umas quantas cicatrizes à conta desta máxima. Se calhar não tão fundas ou em carne viva como as tuas, mas igualmente dolorosas e com marcas para o resto da vida.

E tenho o pressentimento que ainda haverá mais umas quantas ao virar da esquina.

E mesmo o choro sendo uma boa terapia, é mesmo necessário seguir em frente, evitar os buracos e pensar que amanhã as nuvens negras vão estar bem longe. Ou temos esperança que assim seja.

Coragem.

Wednesday, 5 August 2009

3 golfinhos na praia, a saltar de um lado para o lado, e uma multidão de pessoas a olhar, a mostrar aos filhos, a torcer para que eles viessem ainda mais perto, a sorrir um sorriso puro.

Sim, a vida é boa, e eu sou realmente uma sortuda.

Thursday, 30 July 2009

Em contramaré rumei à praia. Calor de mais para as 18:15. Calor demais para qualquer hora. A ponte azul e branca, tão familiar, descia desta vez, fazendo a vontade à maré, e o comboio preto e vermelho não tardou a chegar. Houve quem aproveitasse para tirar fotografias. Talvez para mostrar à família as subtilezas deste maravilhoso destino de férias, talvez porque o comboio sem portas, nem janelas, delicia não só miúdos e mas também graúdos.

Desta vez, confesso, não liguei muito à paisagem. Dispersei a atenção nos rostos e nas conversas. O calor teimava e não fosse a praia ficar a poucos minutos e correr a brisa do costume, a magia do comboio ter-se-ia derretido.

Procurei a bandeira verde, e lá estava ela para me cumprimentar. A areia estava tão branca e mais fina que da última vez. Procurei um lugarzinho mais longe da "multidão", pousei a tralha, e mar, aqui vou eu! A vida é boa e eu apesar de alguns percalços aqui e ali, sou uma sortuda.
Custava-lhe virar as costas. Afinal de contas, tinha sido a relação mais duradoura que alguma vez tinha tido. É certo que eram o pólo oposto um do outro, mas não tinha ouvido tantas vezes aquela expressão dos pólos opostos que se atraem? Mas depois de todos aqueles anos, ficava plenamente convencido que a tal expressão devia ser uma referência a um antigo anúncio daquela marca de automóveis que nos anos 50 andou a fazer mutações genéticas de carros com insectos rasteiros. Mas, divagava. O que era realmente importante saber é que a relação tinha chegado ao fim, morta e enterrada ainda antes daquela última discussão. No fundo, ela nunca o tinha chegado a realmente entender. Isto é, nunca percebeu o seu eu interior. Aquilo que o fazia mexer. Também podia defender-se dizendo que ele raramente conversava com ela e saía da sala assim que os lábios dela previam a formação de palavras. E era realmente verdade. Mas não seria isso uma mísera desculpa para ela não encarar o problema de frente, o verdadeiro problema? E qual era o verdadeiro problema? A sua dependência dele, a maneira como sorvia todo o seu ser, deglutindo-o até um ponto onde já quase não existia. Aquilo não era, de modo algum, um relacionamento a dois, mas sim a diluição do seu próprio ser no desejo absolutamente pecaminoso de gula da parte daquela mulher que agora deixava para trás.

Em tudo isto pensava o esparguete, enquanto retirava dos bolsos algumas alcaparras de modo a poder pagar o quarto de motel, e as poisava no balcão por trás do qual uma beterraba mal encarada e de óculos escuros o observava de forma desconfiada.

Thursday, 23 July 2009

Cala-te, por favor. Não grites mais, é excusado.

Não sabes como na verdade estás a agredi-lo tanto como a mim mesmo. Sinto o meu coração ficar pequenino, do tamanho de um grão de areia, de cada vez que abres a boca na sua direcção. Sentiria menos dor se simplesmente me cravasses uma faca no peito.

Ele não te compreende, será que não entendes?

E porque não fazer-lhe a vontade, deixá-lo ter a razão que ele pensa que ainda tem? Será que te custava assim tanto dar o braço a torcer e com isso torcer a verdade por uma boa causa? Eu sei, eu sei, eu deveria ser a última pessoa a defendê-lo, ainda me lembro bem das vezes que o confrontava com as minhas naturais dúvidas de adolescente, que tudo questionava e que tudo tentava colocar em causa, apenas mais um pretexto para uma guerra de palavras sem trégua.

Vê como ele está. Vê como ele ficou. E tu, porque estás assim, tão alterada?

Sim, as refeições calado, no meu canto da mesa, sob o seu olhar acusador. O sair desesperado da mesa e sempre recriminado pela minha falta de respeito, um puto sem a mínima educação, como era possível. A subida, sempre com a raiva em chamas, das escadas que tanto me ensinaram, as escadas onde passámos dias e noites de sabedoria que nenhum livro seria capaz de me incutir. As escadas onde tu e eu resolvíamos as nossas diferenças, onde voltávamos a sorrir um para o outro, onde o acordo de paz era quase sempre assinado com o recurso a um caneco de água. Sim, não me esqueço e quem me dera que tu também não esquecesses.

Vamos sair, vamos apanhar ar, vamos esticar as pernas, vamos conversar um bocadinho lá fora.

Vamos sair, vamos apanhar ar, vamos esticar as pernas, vamos conversar um bocadinho lá fora. Tenho uma ideia. Vamos caminhar ao contrário, voltar no tempo e fazer de conta que estamos outra vez ali, à beira da estrada. Com os nossos sorrisos eternamente presentes.

Thursday, 9 July 2009

Saltar, ou não saltar, deixar os outros ficarem ou partirmos? Escolher o silêncio, ou aprender a partilhar o que nos aflige, dizer que basta, ou dar uma oportunidade aos outros e a nós próprios?
Deixar o cansaço abraçar-nos, ou andar a passos largos, cheios de convicção? Deixar-nos estar, ou partir em direcção a outras viagens, outras vidas... Sermos outros, ou sermos nós. Descobrimos o quê é o quê.
Porquê? Porque é que uma pessoa com quase 90 anos já confunde as faces das suas diferentes filhas e outra pessoa com quase a mesma idade ainda se sente à vontade para discutir as repercussões sociológicas do endeusamento de um insignificante jogador de futebol? Porque é que um apenas anda alguns minutos nas ruas á volta da casa enquanto o outro vai passear até à beira-mar para se reunir com amigos de décadas? Porquê, porquê? Quando será desenvolvida uma vacina que preserve o nosso cérebro até ao momento em que o nosso corpo deixe permanentemente de funcionar? E porque é que isso não pode acontecer ainda nosso tempo de vida? Somos uma forma de vida tão inteligente, supostamente a mais inteligente à face da nossa terra, e mesmo assim o segredo para manter essa inteligência até ao fim dos nossos dias ainda nos ilude, como se simplesmente as baterias do nosso cérebro não resistissem tanto como o bombear de sangue do nosso coração. Mas não é assim para todos. E não há estatísticas que nos valham, quando há volta de uma mesa estão sentadas quase duas dezenas de pessoas cujas mentes estão afinadíssimas, limpas ainda de névoas passadas que ocultam vírus tão ou mais destrutivos que os vermes informáticos. Porque no fundo, é o nosso próprio computador pessoal que está em causa, o nosso disco rígido repleto de memórias, conhecimento, opiniões e pontos de vista, tudo aquilo que realmente simbolizamos está ali, guardado naquele compartimento frágil de massa cinzenta. E como me custa ver a mente de alguém a fugir, lentamente, diante dos nossos próprios olhos.


No fundo, dia a dia, sem que o possamos evitar, apenas e simplesmente atenuar, é o próprio mundo que existe dentro de ti que começa a chegar ao seu término. E assim, resta-nos apenas continuar a dar-te o nosso amor, na esperança que isso te ajude mais do que a tua bengala.

Thursday, 2 July 2009


Não gostava de morar num mundo pós-apocalíptico, apercebo-me agora disso. Um mundo que tivesse sido devastado pelas criações destruidoras do homem seria algo demasiado negro para mim. Viver rodeado do permanente sentimento da morte eminente, às mãos de um qualquer bando de revolucionários de alguibeira ou de agentes policiais transformados em braço armado de um lunático, são algumas das imagens que de repente me assolam o cérebro quando penso nessa possibilidade de mundo. Definitivamente o futuro, por vezes, consegue ser algo de perfeitamente assustador. Não é sempre, mas às vezes, quando se liga a televisão, quando se pega num livro ou quando se vê um filme que nos deixa a pensar. A pensar que por muito conhecimento que acumulemos na nossa fugaz existência, o desconhecido ocupará sempre a maior percentagem na nossa mente. Resta-nos acreditar que, no derradeiro fim, os princípios que deviam nortear o humanidade, como o amor e a amizade, serão mesmo a última coisa a ser vaporizada numa bola de fogo infernal...

Thursday, 25 June 2009

As noites em Junho são mais longas. Há mais gente na rua, a invadir o espaço do qual a Lua se julga dona e senhora. Há mais luz, mais agitação, mais cheiros a acompanhar os nossos passos nas ruas empedradas. Também há mais sorrisos, e nem todos se devem ao copo que cada um segura. O mundo acha-se mesmo no direito de festejar, de celebrar os seus ritos pagãos, em nome de santos religiosos que se calhar até gostariam de estar ali, no meio da festa. Que pena que é que isto apenas dure um mês. Por mim podia durar, pelo menos todo o verão. Sim, porque neste mês de alegria e sol até às tantas e amigos à nossa volta, o mundo bebe do elixir da eterna juventude, como dizia o Sérgio, e deita para trás das costas todas as suas tentativas suicidas de acabar consigo mesmo e os seres estranhos de duas pernas que percorrem as suas ruas.


Thursday, 11 June 2009

"Listen very carefully, I shall say this only once."

E assim nasce uma ideia engraçada para uma fotonovela política, na ressaca de mais uma ida até às urnas que se revelou, mais não seja, como um acto desesperado de democracia. O que vale é que este ano ainda só agora começámos. Tenho mesmo de pensar no enredo da fotonovela. Se bem que parte do casting é relativamente fácil.

"You stupid woman!"

Thursday, 28 May 2009

Ia a caminho de fazer um RX (por causa de umas vértebras casmurras como alguém lhes chamou) quando recebi uma mensagem a avisar que a Joana tinha nascido, e que os pais estavam babados, felizes e todo mais um sem número de predicados simpáticos e agradáveis.

Fiquei contente por eles, muito contente, mas ao mesmo tempo tive consciência do quão longe estava de realmente perceber os sentimentos e reacções que surgem com um nascimento de um filho (e essa consciência foi reconfirmada quando mais tarde fui ao meu email).

Porque uma coisa é pensar no que deve ser (sem sequer chegar a tocar a experiência), e outra é de facto senti-la.

E sim, esta semana, o mundo não acabou à quinta, mas renasceu à segunda.

Thursday, 21 May 2009

Há pessoas que se divertem ou distraem a lixar a vida ao próximo. Como quem vai ao cinema, ou tomar café. Em vez de viverem a vida, ou fazerem por ela, divertem-se a criar intrigas ridículas, boatos psicóticos, ou a causar desconforto ao vizinho do lado.

Alguns delas estão perdidos numa espiral obsessiva de rituais, leis, obrigações, que impõem a si mesmas e impigem aos outros. Costuma-se dizer que não têm nada para fazer, ou que são infelizes. Talvez sejam ambos, talvez apenas tenham tido uma sucessão de dias maus...

Eu que foi recentemente o alvo escolhido, estou apenas contente de não ser assim (ou assim o espero).
Reactiva ou preventiva? Ou ambas?

Esta é a pergunta do dia. A par do sentimento que este tipo de empresas qualquer dia pode alegar um estatuto de ONG's, preocupadas com o futuro deste país e preocupadas em empregar todas as pessoas inscritas nos centros de emprego, e o melhor de tudo, sem se preocuparem com os seus próprios honorários. Bom, pelos menos o suficiente para pagar a renda, que não deve ser baixa.

Eu sei, o cinismo nestas situações começa a ganhar pontos. E isto mesmo havendo do outro lado genuína simpatia, ou algo similar. Mas o que é que se pode fazer depois daquela meia hora? Olha, talvez que o dia estava bonito, deu para voltar a ver uma cidade desafogada, aos altos e baixos, com muitas obras e cafés fechados, com muitos sítios novos e apetitosos, com muito para ver, ouvir e saborear, que o mundo está sempre a surpreender-nos. E nunca se sabe quando é que nos vamos cruzar com um antepassado nosso tão mais sensato que nós...

Thursday, 14 May 2009


Muitos fios, muitos livros, muitos mails, muita coisa a acumular pó sobre pó. Os períodos de férias, em cada ano que passa, parecem tornar-se cada vez mais pequenos e não há tempo nem para metade das tarefas lúdicas que tínhamos programado. E quando vamos a olhar, o regresso ao trabalho chegou e passou e uma semana já lá vai. E quando menos se espera, uma dinastia de quatro anos chega a um fim tão inesperado como indiferente. Aliás, é essa mesma indiferença, que já vem com alguns meses de bagagem, que acaba por marcar esta semana que passou, uma semana estranha e rápida, com algumas revelações quase surpreendentes, alguns términos esperados, e inícios prometedores. Isto tudo para dizer que mesmo quando uma parte do nosso mundo termina, seja nesta ou noutra quinta-feira, há sempre um alívio em saber que, quando chegamos a casa, há um conforto, um par de olhos familiares que nos esperam e não querem nada mais para além do nosso próprio bem. E isso é algo que nenhum tipo de esquizofrenia bovina aguda consegue destruir...

Thursday, 7 May 2009

Às vezes o mundo organiza-se de uma forma quase perfeita. Os dias não passam nem depressa, nem devagar. Está calor, mas corre uma aragem fresca. O conforto da electricidade está ali à mão, mas conseguimos observar o céu estrelado na sua ampla magnitude e procurar constelações perdidas lá atrás na nossa infância. Tudo parece ter um ritmo delicioso. Tudo parece ser simplesmente simples. Apreciam-se os amigos e as conversas. A televisão não faz falta. Passa-se para o minuto seguinte entre livros, passeios, fotografias, caipirinhas e gin tónicos, amendoins e pistácios, saladas com pimentos e secretos de porco grelhados. A fila de espera para o banho não origina stress. Tudo se conjuga de forma normal. Cada um parece ter o seu lugar. Sentimo-nos parte da paisagem, dissolvendo-nos numa paz sem limites, nem contornos.
Ontem partilhámos provavelmente o momento mais íntimo que alguma vez tivémos. Bem sei que era uma actividade perfeitamente banal, mas quando os meus olhos encontraram os teus continuamente marejados pelas lágrimas que agora te aparecem tão facilmente, por pouco não chorei também. Armei-me em forte e sorri e pedi o teu sorriso, que de tão bonito devias exibi-lo todos os dias. Quando viraste as costas, enxuguei as minhas lágrimas enquanto pensei que momentos como aquele são aqueles que irei guardar no meu coração quando a tua hora de partir der os primeiros sinais. E derramei mais algumas lágrimas quando pensei nisto.

Hoje fazes 89 anos. Desde o minuto em que tomámos o pequeno-almoço, passando pelos remédios que te dei e a nossa conversa a meio da manhã, até aquele minuto em que te passei para a tua mão a minha lembrança de aniversário, que o teu sorriso tem feito mais aparições do que é normal, o que me deixa muito feliz e acaba por encher toda esta casa com a tua presença. O carinho que te dei ontem tenho-o recebido a dobrar hoje e não há sensação que se lhe compare, nem palavras que possam traduzir o que sinto de cada vez que me olhas nos olhos, como o homem que sempre foste.

Parabéns, meu querido António. Parabéns, meu querido Avô.

Thursday, 16 April 2009

Eu sei que às vezes o mundo nem tem tempo para acabar, que os minutos não rendem, a ligação à internet é desesperante, e há mais mil e uma coisas para fazer, nem que seja descansar, mas gostava de ver um post teu aqui, afinal de contas este blog era suposto ser de 3 pessoas, e não 2 (em função intermitente). Portanto aqui fica o pedido. Mais uma vez.

Thursday, 2 April 2009


Ainda há um lugar vazio. Ou seja, falta aqui alguém. E eu tenho uma interpretação para isto. Ou melhor, acho que o meu cérebro tem uma interpretação para isto, em tudo diferente daquela que o meu coração faz. E quem estiver a ler isto, verá aqui outro significado qualquer. Bom, seja como fôr, anseio pelo dia em que alguém ocupe esta cadeira, não mais vazia, mas sim atingindo a plenitude do objectivo para o qual foi concebida. E assim ficará completa a plateia...

Monday, 30 March 2009

Não sei se foi o cansaço da alma que extravasou para o corpo, ou cansaço do corpo que extravasou para a alma. O facto é que estou exausta. E ambos corpo e alma reclamam pequenas e grandes maleitas.

O cansaço pesa-me em todos os músculos, como se algo pressionasse de verdade o meu corpo. Uma dor física que traduz muito do que vai em mim. A minha mente demora-se em tarefas familiares, ignorando (as minhas) chicoteadas psicológicas ou pedidos singelos. E uma espécie de tristeza, que teimo em rejeitar, mostra-se logo ali, ao virar da esquina. Nem a ventania que se fez sentir, me arejou por completo.

Parece que o meu corpo (ou alma, ou talvez os dois em cabala holística contra mim) se cansou de me deixar recados carinhosos aqui e ali, de me dizer simpaticamente que estava na altura de abrandar, e sem mais, nem ontem, me cortou acesso, me negou poder de decisão.

Porque nestes últimos dias não me é permitido exigir, é-me exigido que permita descansar.

Thursday, 26 March 2009

Ontem esteve perto de acabar. Não o mundo, que até parece começar a entrar nos eixos, mas a pessoa que escreve esta meia-dúzia de linhas. Uma queda, mesmo que ao mesmo nível, não deixa de ser uma queda. Não revisitei o cliché da vida passada que nos passa pelo olhos numa questão de nanosegundos, com alguma pena minha, pois algumas coisas até gostava de ver de novo, mais não seja pela questão da focagem da nossa memória fotográfica.

Acho que acaba sempre por ser uma questão selectiva do nosso cérebro. Algumas coisas que queremos guardar na nossa "bagagem" ficam nítidas para sempre, ainda que na altura em que ocorreram a focagem fosse mais que dúbia, e sem dúvida que parte dos pormenores são como peças de puzzle que lá faltavam e a nossa mente, consciente ou não, trata de arranjar e completar o ramalhete. E no inverso? Acontecimentos que nos marcaram da pior forma, nítidos como cicatrizes que nos rasgam a pele, mas que por alguma razão não os queremos guardar connosco de tão dolorosos que são, que aos poucos deixamos que se tornem polaróides gastas pelo tempo e com nitidez galopantemente fraca. Escolhas do nosso âmago, acho eu.

Se calhar isso justifica o porquê de não me lembrar de pormenores da queda. O porquê deste ou daquele corte, de onde apareceu aquele hematoma. Apenas o antes e o depois. O durante ficará perdido num qualquer limbo da minha memória. Apenas as causas e as consequências ficam, sendo que estas últimas me doem mais que qualquer espécie de fotografia de outros tempos...

Thursday, 19 March 2009

E depois de umas dezoito horas de trabalho quase seguidas, o mundo podia mesmo acabar que eu provavelmente nem iria reparar nisso, a menos que fosse obrigado.

E chega-se a casa já na madrugada de um outro dia, com as ruas quase desertas, com muito poucas aspirações a não ser uma cama e umas quantas horas de sono, e acaba-se confrontado com a fuga à solidão que tantas e tantas pessoas manifestam quase todos os dias. Com a diferença que já é quase meia-noite e meia e esperava-se tudo menos um boa noite do outro lado da rua.

Seja a afinidade de trabalhar fora de horas, ou a afinidade da falta de estacionamento numa rua que mais lembra o bairro alto numa noite de santos, ou a afinidade de já termos trabalhado a uma centena de metros um do outro, o certo é que o boa noite despoletou uma conversa de todo inesperada.

Em cinco minutos, mais palavras trocadas do que em alguns anos de vizinhança. Em quatro minutos de escadaria, e mais algum cansaço para o acumulador, um sentimento quase a roçar a solidariedade, sim, eu também estou aqui, cansado de tanta labuta, e percebo perfeitamente de onde vens, e já sabes que não estás sozinho nesta luta contra o resto do mundo que já dorme tranquilamente nas suas residências. E ainda aproveitamos para nos rirmos com a impossibilidade de termos um carro ainda portátil que um smart, só para agarrarmos aqueles últimos centrímetros de óasis estacionável.

Definitivamente, o ser humano ainda tem a capacidade de me surpreender nas alturas mais bizarras. E ainda bem que isso acontece, na margem deste precípio que, curiosamente, tende mesmo a acontecer às quintas-feiras. Ou então já é um estereótipo...

Engraçado... a memória fotográfica que temos de alguém com o tempo perde a nitidez. Fica envolta numa espécie de névoa e é necessário fazermos um certo esforço para nos lembrarmos do rosto, da imagem por inteiro.

Às vezes a mente por querer negar o seu desajustamento invoca fotografias reais (expostas em molduras ou guardadas em gavetas), momentos que pararam no tempo. Mas por mais desfocada que a imagem esteja, o sentimento continua lá, com contornos intactos, sem perder a essência.

Thursday, 5 March 2009

Como diz o outro "there are no free lunches" e tal como no mundo dos negócios também nas amizades tem de haver reciprocidade e benefícios para todos os envolvidos.

Talvez pareça uma versão demasiado comercial e capitalista, mas na realidade não é: as amizades permitem desencontros e mal-entendidos, palavras duras e até traições, estas são, aliás, algumas das suas melhores características, mas nenhuma amizade sobrevive ao desinteresse repetido e continuado de uma das partes (ou das duas). A mesma coisa se passa com o amor.

E esta mania que agora há de querer que os laços que unem as pessoas apareçam quase por geração espontânea, sem necessidades de cuidados, ou preocupações, sem manutenção... faz com que geralmente se troque o espaço e silêncios que as amizades proporcionam (e devem proporcionar) por alheamento em relação aos outros.
Isto de ser confrontado com as nossas amarguras via éter tem muito que se lhe diga. Até porque o que foi dito até trazia consigo uma certa aura de pan-pipes que normalmente apenas causa o escárnio e mal-dizer. O problema... O problema acaba por ser o piloto automático. Se este não existisse, mesmo com obras de ampliação, lama e vidros a precisar de água, talvez o cérebro estivesse mais desligado ou mais concentrado no caminho, e assim não lhe desse para o denaveio súbito, acabando por fazer uma tempestade num copo de água que, sinceramente, já não bebia há algum tempo. E de repente a sede fez-se rio de lágrimas amargas, daquelas que preferimos não conhecer, mas que a vida madrasta nos faz questão de recordar, talvez para melhor sabermos que não há nada eterno, nem as tristezas nem as alegrias, tudo está sempre à beira de um precípicio, ou melhor, de uma montanha-russa que eventualmente nos devolva à casa de partida.

Estou ao lado.

E vou largar a oxigénio de lado.

Wrong time. Wrong theories. Wrong page.

Thursday, 26 February 2009

Os últimos dias têm visto o mundo quase que renascer à minha volta. Pode mesmo dizer-se que as nuvens se têm afastado para dar lugar a coisas nunca antes vistas e que me têm deixado de boca aberta, perante a beleza de locais, pessoas, sons, e visões que eu nunca esperaria ver.

Terei entrado para a quinta dimensão? Se isso aconteceu de facto, nada tem a ver com a quinta dimensão a que fui acostumado, onde se entrava para mundos onde a razão deixava de existir, onde extraterrestres se preparavam para nos cozinhar em lume brando, onde nos tornávamos na única pessoa à face da terra, ou simplesmente deixávamos de ter o aspecto que sempre tivémos para nos transformarmos no pior dos nossos mais horrendos pesadelos.

Poderá haver uma quinta dimensão genericamente boa, estilo good cop, bad cop? Se há, ela acabou de entrar pelo meu próprio mundo adentro. E trata-se de uma invasão muito bem-vinda. Enquanto isso implicar viagens além-linha, caminhos percorridos a pé sem cansaço, notícias profissionalmente inesperadas e quase a roçar o surrealista, sons inebriantes e quentes, danças desajeitadas mas impelidas pela força do nosso coração, e a luz constante a banhar as nossas faces, terei sempre o maior gosto em ser o convidado especial desta quinta dimensão.

Até porque o mundo já tem demasiadas coisas a funcionarem a apenas duas dimensões, sem profundidade ou perspectivas decentes.


Tuesday, 24 February 2009

O carnaval nunca me disse muito e não fosse o calendário marcá-lo e o feriado, que não é feriado, mas toda a gente goza como se fosse, passaria certamente despercebido na minha vida.

Acho que nem quando era criança tinha um grande apego há possibilidade de me mascarar, pelo menos não tenho grandes recordações disso (o que já por si é revelador), sempre gostei mais de sonhar e imaginar.

Lembro-me, no entanto, de duas coisas (pelo menos assim de repente): um vestido de espanhola, azul com bolas brancas e alguns folhos nas mangas e bainha, e um chapéu de palha que em conjunto com um lenço me possibilitou mascarar de camponesa (recordação esta herdada de uma fotografia a preto e branco que a minha avó guardava na cozinha). Mas isso é outra conversa, para outro dia.

Como a minha indiferença pelo carnaval não é partilhada pela maioria das pessoas (principalmente as que têm filhos, e a meu crer não têm grande solução) hoje fui banhada com multidões (de relance) e trânsito (bem perto), o que noutra altura, noutro momento, poderia ter-me desgastado, anulado o efeito do passeio.

Mas também tive direito a sol, vento, mar e verde a perder de vista, numa mistura quase perfeita. Fundi-me na paisagem (tal como quis fazer quando a protagonista de um filme que vi há pouco tempo passava por arbustos e árvores) estiquei os braços em direcção ao mar, respirei.

Parece que pouco a pouco, o meu cansaço vai ter um fim... e talvez então me debruce sobre os males do mundo...

Thursday, 12 February 2009

Tenho uma enorme dor de cabeça neste preciso momento.
E tenho a ligeira impressão que o culpado é o Darwin.
Afinal de contas, se não fosse a teoria da evolução, estaria agora mesmo a baloiçar de ramo em ramo, numa qualquer selva africana, sem uma preocupação que fosse, e muito menos com uma dor de cabeça deste tamanho.
E sim, definitivamente, atribuo a culpa ao Darwin.
E se pudesse, estaria agora a puxar-lhe as barbas. E a gritar-lhe aos ouvidos que nunca devia ter posto o pé nas Galápagos. Que as tartarugas e as iguanas mereciam a sua paz anónima e nunca quiseram ficar debaixo dos holofotes da fama científica.
E esta dor de cabeça que não vai embora.
Acho que os meus neurónios estão a cometer suicídio em massa...


... e sim, o culpado de tudo isto chama-se Charles Darwin mais as suas teorias...

Sunday, 8 February 2009

Há dias assim, em que a chuva e o nevoeiro aconchegam, e a alma se reconforta com pequenos nadas. Dias em que as reuniões familiares não são uma obrigação, mas um privilégio da vida. Em que os risos à volta da mesa, trazem ao de cima o melhor que há em nós. Dias em que o universo reconhece que o nosso limite estava ali, logo ao virar da esquina e nos brinda com simplicidade e encanto. Apenas por momentos. Os suficientes, para serem apreciados, e não menosprezados. Para ficarem na memória.

E sim, provavelmente o mundo amanhã entrará sem pedir licença... com barulhos, trânsito e desconsiderações, mas do alto do meu sofá, com direito a manta, e memórias recentes, tenho um bem-estar gordo e preenchido que não se esgotará facilmente.

(peço desculpa pelo plágio das 3 primeiras palavras - do qual só me apercebi depois de escrever-. E sim, definitivamente a quinta-feira não é meu dia)

Thursday, 5 February 2009

Aproveitando um raro momento em que, aqui no campo, a chuva parou e há inclusive raios de sol intenso a entrar pelos vidros do escritório, venho só avisar que hoje o mundo está bem vivo...

... isto é, excepto para os pobres porcos, vacas e quejando que "doaram" partes várias de si próprios que estão agora mesmo a ser colocadas em cima da grelha.

Há dias assim, como dizia o outro, em que as lágrimas dos raios solares estão enxutas e o ar é bastante mais respirável, e até parece que a crise, seja ela qual for, decidiu poupar-nos por um dia e deixar descansar os nosso espíritos mais consumistas...

Thursday, 29 January 2009

E eis que de facto o mundo parece chegar ao seus últimos dias. O sinal evidente é dado pelos não-vivos. Fartos dos seus sepulcros, dos vermes como única companhia, e do peso de toda aquela terra sobre os seus ossos, a sua paciência atinge o limite. Não compreendem o porquê de não poderem andar à face da terra, como os vivos, apenas pelo facto de o seu coração já não bater e de o seu sistema respiratório já não consumir oxigénio há muito tempo. Quando muito e tendo em conta os tempos que correm isso seria uma enorme vantagem. Com esta constatação, os cádaveres, termo tão depreciativo este, decidem que está na altura de sairem dos seus buracos e terem direito a caminharem neste mundo, de verem por si próprios como está o planeta do qual apenas só conhecem o seu pedacinho de solo, morada dita eterna. Os vivos parecem não compreender muito bem esta curiosidade latente de quem não respira, já que perante as visões dantescas (termo melodramático do qual só os vivos se lembrariam) de pedras tumulares abertas e gavetões vazios, fogem e gritam como se estivessem a ser invadidos por alienígenas cinematográficamente maléficos. Os mortos, um pouco encandeados com tanta luz depois de anos, décadas e séculos de escuridão, não compreendem estes seres vivos tão aterrorizados. Afinal de contas, na maior parte dos casos, o seu aspecto não é assim tão repulsivo. E afinal de contas, quem são eles para os julgar, experimentassem uns quantos anos sem direito a banhos, maquilhagens ou cirurgias plásticas, e veriam que o aspecto exterior é demasiado sobrevalorizado. Os não-vivos percebem perfeitamente, qual iluminação religioso-espiritual, que o que conta é o que temos dentro de nós. Seja esse interior preenchido pelos respectivos orgãos vitais ou não, é o nosso interior que nos define, respiremos ou não. E exactamente por esta razão, e depois de alguns dias vagueando pelo planeta, afugentando os vivos e mesmo criando espirais de pânico pouco compreensíveis, os não-vivos chegam a uma conclusão tão inacreditável que os deixa de queixo caído (ou nalguns casos efectivamente de maxilar caído no chão). Este mundo é pior do que aquele que deixaram aquando da sua descida aos solos. Tudo está pior. Nada mudou para melhor e os mortos vêm-se confrontados com a terrível conclusão que ali não há nada para eles. Os vivos que fiquem com aquele mundo imprestável. Do seio dos não-vivos, emerge um profeta, de ossos praticamente limpos de carne mas com enorme sabedoria. É dele que parte o apelo para o regresso às suas moradias sepulcrais. Todos saudam esta iniciativa, estranhamente unindo vivos e mortos à volta deste parecer. E é assim que os não-vivos iniciam o seu lento regresso aos cemitérios, fechando as suas campas e deixando atrás de si um mundo verdadeiramente putrefacto, digno de todos os vivos que o habitam. Lentamente, muito lentamente, as cancelas dos cemitérios se vão fechando para nunca mais se abrirem ao mundo exterior. O último a fechar a porta é o profeta, enquanto lança um último olhar lá para fora, para a parede onde deixou a sua última profecia, uma espécie de postal de boas-vindas para todos os vivos.


Wednesday, 28 January 2009

Bom, e cá estou eu, novamente, num dia que não uma quinta-feira (não faz mal as palavras não têm calendário predefinido, nem se importam se me adianto ou me atraso).

O tema de hoje não é de grande importância para o mundo (mas que revela muito da falta de noção geral, revela), mas têm alguma para mim.
Não compreendo a necessidade/facilidade/alheamento que leva as pessoas a discutirem a sua vida (pessoal, profissional, intima...) numa mesa de restaurante, num canto de um café, com um tom de voz que torna difícil ao mais bem-intencionado comum dos mortais não ouvir a conversa.

E não, não é do ocasional desabafo, que estamos a falar... de uma frase aqui e ali, do convívio (necessário e a fomentar)...

Trata-se de uma poluição sonora que contamina a refeição e a leveza de estar dos vizinhos do lado que inocentemente se deslocaram ali com a intenção de relaxar e esquecer os seus próprios males (se os houver) e deparam-se agora com uma veemente dificuldade em se ouvirem a si próprios.

Será possível que não há outros sítios para discutir e acusar o outro de patéticas maldades empresariais, escamotear as suas acções, gritando para todos ouçam e condenem, praticando assim também um pouco da maldade que se critica?

Será que não pode partilhar a depressão ou histerismo (com direito a ameaças, gritos e choros) com os nossos amigos,
dentro de quatro paredes?

Talvez seja da conjunção entre a minha actual falta de paciência e o meu íman karmico (sim, pelo menos 2 vezes em 2 saídas seguidas), mas não acho isto normal.

E como sou humana (e como já referi um espécime bastante cansado no momento), tive me controlar para não interromper tão entusiásticas telenovelas e solicitar pelo silêncio ruidoso que habita nos espaços públicos e nos dá uma sensação de privacidade.

Thursday, 22 January 2009

Confesso que há dias em que é muito difícil.


Dias que parecem intermináveis, semanas que parecem durar séculos, meses que equivalem a eternidades, e anos que se assemelham a pequenas partículas do infinito.

Mas depois...

Depois surgem aqueles momentos que realmente fazem com que a minha vida tenha significado.
E nesses momentos, as nuvens afastam-se, o sol brilha, tudo parece ter novas cores, e de repente estou feliz quase sem me aperceber.

Porque, por vezes, o único mundo que acaba é aquele que na realidade não precisamos.

Monday, 19 January 2009

Hoje... o mundo acaba à segunda

Depois de 3 tentativas (falhadas) de escrever a uma quinta-feira, resolvi escrever quando me der na real gana, para não me desiludir a mim e não te deixar aqui sozinho a fazer posts por duas work-aholics sem noção que a vida não é só mais do que trabalho, mas que tem de ser mais que trabalho.

E essa é uma das razões que do meu mundo estar quase a desmoronar (sim, eu sei que isto é um bocadinho dramático e egoísta, e que era suposto estarmos a falar dos males do mundo, mas não será este um dos mais cruéis em termos da sociedade actual? o de não termos tempo para ser, o de não termos tempo para dar).

O meu cansaço já extravasou o corpo e alojou-se na alma, e quero, preciso, de ter um mês de vida normal a sair todos os dias às 6:30 (já nem digo às 6...)... mas não consigo sequer alcançar isso no horizonte.

E como não consigo, o meu corpo também cansado (de mim) ameaça-me com uma espécie de guerrilha.

E não, não tive um dia mau (é claro que estive a corrigir um erro de outra pessoa pela n-ésima vez, o erro que deveria ter sido corrigido pela própria, o erro que é grave, gravidade que já lhe foi explicada várias vezes... mas desta vez ficámos todos até mais tarde para corrigir isso, não fui só eu...e por isso o dia não foi mau).

Mas sofro actualmente de overload de coisas pequeninas, que moem e se tornam enormes, e preciso de descansar o corpo, a alma, a aura, tudo o que mais houver.

(e foi o que se conseguiu)

Thursday, 15 January 2009

Acabei de chegar agora a casa, depois de um dia que podia ser considerado como um relembrar.
Um relembrar de que, quando menos esperamos, o chão cede sob os nossos pés e aí estamos nós numa perpétua descida aos infernos.
Não os infernos que nos habituámos a ouvir pregar durante a nossa infância, mas sim aqueles que todos os dias nascem ao nosso redor, criados por seres que muito pouco têm de humanos.
Eu sei, eu sei, que depressivo, é impossível que seja assim tão mau, apenas vês o lado mau do mundo, que cinzento que tu és, não consegues ver ao menos as cores do arco-íris.
Sim, eu sei que é.
Não, por vezes não me parece que seja.
Não, também vejo o bom, mas não posso negar que vejo o mau.
Posso ser, sim, mas não o sou sempre.
Sim, consigo.

E só por isso devo calar a minha revolta?
E só por isso devo manter um silêncio cúmplice e nojento?

Não me parece.

Tenho uma nova resolução de ano novo.
Tenho que me tornar rapidamente um ser narcoléptico.
A bem da minha sanidade mental.

E continuo sozinho.

Thursday, 8 January 2009


(Imagem retirada daqui.)

Aqui continuo inteiro.
Ainda trancado em casa, mas com menos borbulhas.
Nem todas as epidemias que assolam este país (ou as pseudo-epidemias, no meu caso) são suficientes para acabar com o que quer que seja. As pessoas continuam a correr de um lado para o outro, preocupadas com as contas, com o jantar, com o que vai acontecer com a alice da telenovela das nove. Tudo continua a sair de casa pela manhã, apenas para ao final da tarde voltarem todas ao subúrbio do seu coração, seja ele mais perto de lisboa, ou mais perto de sintra. Olha-se à volta e tudo parece igual. Seja na avenida dos bons amigos, na estrada de benfica, ou mesmo no passeio das tágides. Long Live Corbusier & Ca.

Esta semana o mundo continua de pé.
Ao contrário de outras partes do planeta, onde parece desabar sob o efeito de mísseis terra-ar ou rockets com nome de bar do cais do sodré. Porquê? Porque sim. Nesses pedaços de terra tão apetecidos, não há razões válidas para acabar com o mundo, simplesmente é assim e cabe-nos apenas assistir, impávidos e serenos.

Continuo sem companhia.
Talvez para a semana, se se lembrarem.



"Agora não, que falta um impresso...
Agora não, que o meu pai não quer...
Agora não, que há engarrafamentos...
Vão sem mim, que eu vou lá ter..."

movimento perpétuo associativo, Deolinda

Thursday, 1 January 2009

O ano começa hoje.
Mas o mundo podia acabar hoje.

Imagino que uma declaração do Presidente da República a anunciar o fim do mundo não tivesse o mesmo impacto de uma terceira intervenção sobre o Estatuto Político-Administrativo dos Açores. Mas mesmo assim imagino que os níveis de audiência ainda fossem significativos.

É claro que para a grande maioria das pessoas a notícia iria passar ao lado. Ressaca oblige. É o que acontece quando o mundo decide acabar no mesmo dia em que um novo ano começa.

Mesmo assim, ainda acho que o fim do mundo traria algumas vantagens.
Por um lado, deixavam de haver restaurantes Lizarran.
Isso e também se acabavam com as birras de gajos um bocado para o borbulhentos.